Carta escrita por Milton Bivar ao torcedor do Sport

CARTA ABERTA A TORCIDA DO SPORT
Milton Caldas Bivar

Não sou um DITADOR!

Não tenho, e nunca tive, tendência nem mesmo comportamento que demonstrasse isso!

Sempre pratiquei a “plena democracia”, e sempre demonstrei isso trabalhando em grupo.
O processo de escolha de Silvio Guimarães como candidato da situação na última eleição do Sport Club do Recife, em 2008, foi fruto desta prática democrática. Independente de minhas preferências, sempre acreditei que o grupo tinha maturidade suficiente para escolher o sucessor, que daria continuidade aos atos vitoriosos da nossa gestão.
O grupo escolheu. A mim como presidente coube a tarefa de referendar essa escolha. E aos sócios coube, por opção e pelo voto livre, eleger Silvio Guimarães, sob o lema de campanha “Continuidade e Trabalho”.

Quando transferi a gestão do clube, o Sport estava na melhor situação financeira de sua história:

• salários do futebol e do administrativo em dia;
• um elenco alegre, motivado, completo e vencedor;
• um técnico que reputo como um dos melhores que já passaram pelo clube, Nelsinho Baptista;
• mais de 9.000 associados ativos e em dia;
• arrecadação de mais de R$ 400.000,00 dos conselheiros;
• o maior contrato de patrocínio de camisa da história do clube proporcionando cerca de R$ 2.800.000 no ano;
• a renda da Libertadores de R$ 4.000.000,00;
• a receita vinda da Comembol de US$ 400.000,00;
• a premiação da CBF pela Copa do Brasil de R$ 516.000,00;
• o saldo positivo na Justiça do Trabalho de R$ 400.000,00;
• a maior receita com taxas de cadeiras e camarotes de R$ 1.200.000,00;
• a receita do Clube dos Treze de R$ 12.600.000,00 – que deste valor adiantamos R$ 2.000.000,00 para fazer face ao pagamento de 13º. salários, férias, etc… como é praxe no futebol em todo final de temporada;
• a receita do Campeonato Pernambucano, que negociamos pessoalmente e aumentamos de R$ 118.000,00/ano, para R$ 800.000,00/ano;
• royalties  e aluguel da loja oficial de cerca de R$ 500.000,00/ano;
• outras receitas de rendas do Campeonato Pernambucano e brasileiro da Série A bares, Todos com a Nota, placas, royalties, etc….

E o Sport estava só começando, em sua nova escalada vitoriosa no cenário futebolístico nacional. As receitas vinham crescendo na medida da participação destacada nas competições.

Tínhamos elaborado um planejamento em 2007 para os próximos 4 anos do clube. Contemplamos todas as áreas. Tinha mapeado todas as ações concluídas e as que ainda estavam em andamento, para entregar a próxima gestão.

No futebol, este planejamento foi traçado junto com o treinador Nelsinho Baptista, e previa sua permanência no clube por no mínimo 4 anos, com um forte trabalho nas divisões de base (com a contratação de um profissional específico), valorizando o nosso tão sonhado CT, recém adquirido na época.

Estávamos no início de 2009, e eu me encontrava excessivamente cansado, com saúde abalada, com problemas familiares e a necessidade de dar atenção aos meus afazeres profissionais que exigiam minha presença. Vinha me dedicando ao Sport diuturnamente desde 2006 quando participei ativamente das campanhas do Campeonato Pernambuco e do Brasileiro, quando conquistamos o tão sonhado acesso a primeira divisão, sendo ainda responsável direto pela maioria das contratações daquele ano, inclusive com ajuda financeira pessoal e com o acompanhamento direto em jogos e viagens do clube.

Mas não me furtei a trabalhar pela continuidade desse planejamento. Mas, infelizmente, o lema “Continuidade e Trabalho” não foi seguido. Como todos sabem, pelos estatutos do clube, cabe unicamente ao Presidente Executivo a administração geral do clube (regime presidencialista). O presidente eleito, mal exercendo o seu poder, desprezou pessoas que faziam parte do grupo, e principalmente a sequência desse planejamento, desmanchando deliberadamente a espinha dorsal de toda a estrutura vitoriosa que tinha sido construída e que foi responsável direta pela sua eleição.

A saída do treinador Nelsinho Baptista e o veto sistemático a alguns atletas por mim indicados, foram o sinal de que minha ajuda era dispensável a partir daquele momento.

Querem me responsabilizar pelos percalços advindos da decisão deliberada de não seguir o planejamento estabelecido pelo grupo. Havia se quebrado ali a regra básica de unidade desse grupo.

Posso ser responsabilizado sim, mas por uma nova forma de gerir o clube, com os pés no chão, enfrentando de frente todas as dificuldades e sem nunca ter tentado responsabilizar ou culpar gestões passadas. Nunca foi minha prática lamentar o passado, ou fazer a política da “terra arrasada”. Nossa meta sempre foi olhar para frente em busca de vitórias. E nós conseguimos.

Fomos vitoriosos e nos orgulhamos de tudo que conquistamos! Fomos Campeões Pernambucanos de 2006, ganhamos o acesso à primeira divisão, fomos BI e TRI nos pernambucanos de 2007 e 2008, conquistamos a Copa do Brasil 2008 – uma das maiores conquistas da história do Sport. Colocamos o Sport pela segunda vez na maior competição de futebol das Américas, a Libertadores!

Posso ser responsabilizado sim por enfrentar dívidas sem contrair outras. Por não deixar seqüelas ou resíduos com todos os profissionais que passaram pelo Sport como os 6 treinadores que lá serviram: Dorival Junior, Celso Roth, Gallo, Giba, Givanildo e Geninho.

Sou responsável por criar um Departamento de Marketing competente e dedicado. Por instalar um Departamento Jurídico coordenando dois escritórios de advocacia mais atuantes e presentes no dia a dia do clube. Por formar um Departamento de Engenharia com 5 engenheiros especializados e de alta competência técnica.

Posso ainda ser responsabilizado pelo maior crescimento patrimonial de todos os tempos, com investimentos superiores a R$ 5 milhões de reais. Pela aquisição de nosso CT em Paratibe com uma área com mais de 10 hectares e com cinco campos de futebol prontos para o uso – aliás este é o meu maior orgulho dentro de todas as nossas conquistas, que irá prover o Sport de amplas condições de formar atletas de primeira linha.E ainda tem a aquisição da área em Igarassu cujo valor dobrou de preço até esta data.

Posso ser responsabilizado por ter instalado nossa loja oficial de material esportivo – talvez a mais bonita e bem instalada do País e que bateu record de vendas em 2008. Pela construção do campo de futebol society, pela colocação de mais 6.000 cadeiras em nosso estádio, por todo o sistema de monitoramento de câmeras no estádio, abertura e construção de área para visitantes, reforma dos vestiários tanto do profissional como amador, reforma da concentração, reforma e construção da portaria frontal e lateral, salão de sinuca, tênis de mesa, reforma de ginásios, reforma e aplicação das cerâmicas rubro-negras (apoiando o projeto Sport Monumental) e muitas outras que não dá para listar neste momento.

Nunca abandonei o Sport, e nem poderia. Além de mim, a minha mulher e meus filhos são rubro-negros de coração. Minha história e a do Sport estão visceralmente ligadas. E ao contrário do que eu imaginava, penso um dia em voltar ao clube. E não quero encontrar meu nome manchado por puro oportunismo de alguns, que fazem e vivem de politicagem dentro do clube.

O meu maior legado é deixar um exemplo de uma nova forma de pensar, gerir, amar, sonhar, emocionar e vibrar com o nosso querido SPORT, sem que vaidades, invejas, inimizades tomem conta de mim.

Tento ser um exemplo para as futuras gerações de rubro-negros. 

Milton Caldas Bivar