Título feminino veio na raça e de maneira emocionante

Final de campeonato pernambucano, não importa o gênero, é sempre empolgante, ainda mais se tratando de clássico dos clássicos com duas viradas e sete gols: Sport e Náutico reeditaram, na tarde ensolarada de trinta de agosto, a partida que definiu o certame no ano passado, quando o leão desbancou o rival nos pênaltis. Quem imaginava que nada poderia ser mais emocionante que a disputa de 2008 se enganou. As senhoras (como são tratadas as rubro-negras pelo treinador Bruno Angeiras) protagonizaram uma reação histórica, trazendo mais um título para a Ilha.

Mas não foi nada fácil: o Náutico jogava em casa, e um simples empate era suficiente. Parte da imprensa considerava a equipe de Rosa e Silva favorita à conquista – deve-se levar em conta que o leão não havia vencido o timbu em nenhuma das três oportunidades anteriores. Fora a qualidade do adversário, existiam outras dificuldades no caminho: além da maioria absoluta das atletas não ser remunerada, grande parte dos treinamentos – que nem sempre ocorrem – são realizados na quadra, onde as meninas também defendem o Sport, já que o time de campo e o de futsal feminino é o mesmo.

O único fator que explica o alto nível de atuação das senhoras, em meio a tantos obstáculos, é a fantástica parceria entre o talento e o amor com que vestem a camisa vermelha e preta. Em campo, foi a confiança, a seriedade e, acima de tudo, a graça com que vivem o futebol que fizeram o leão não se dar por vencido, quando perdia por 3×1 ao término do primeiro tempo. Sem baixar a cabeça, as meninas voltaram para a última etapa dispostas a vencer, e mostraram que são mesmo boas de bola, marcando três gols em trinta minutos. Bastou para garantir o troféu estadual e a vaga na próxima Copa do Brasil, organizada pela CBF.

As leoninas deram uma aula de superação: sorte da torcida do Sport, que pôde sentir novamente o gostinho de ser campeã, e voltar a ter motivos para se alegrar com o futebol, desta vez, jogado pelas mulheres.

Na disputa derradeira, Bruno Angeiras, treinador, resolveu optar pelo 3-5-2. A idéia era, com mais opções no meio campo, neutralizar as jogadas alvirrubras naquele setor, dificultando a chegada de bola nas perigosas centroavantes França e Ninha, artilheira da competição com 17 tentos. Claro, sem deixar de criar, buscando sempre o gol, já que o empate não interessava ao Sport. Tanto que, no início do jogo, o leão abriu o placar com um chute de longe de Lili.

O Náutico, entretanto, encontrou espaço, principalmente pelo setor esquerdo do rubro-negro: Ninha marcou duas vezes, e Fabi acertou, de longa distância, uma cobrança de falta inalcançável para o um metro e sessenta da goleira Nere. Parecia que o sonho do tricampeonato do Sport havia chegado ao fim. Mas só parecia.

No início do segundo tempo, Bruno promoveu mais duas alterações (uma ele já tinha feito no primeiro tempo, quando a camisa 10 leonina, Dillany, saiu de maca, e, em seu lugar, entrou a lateral-direita Papel, puxando Keilinha para o meio), colocando o Sport pra cima: Erica, defensora, e Ingrid, atacante, deram lugar a Charrila e Jaci, a iluminada artilheira rubro-negra.

Carregando o peso da camisa 09, Jaci saiu do banco para resolver o jogo. Com faro de atacante, não desapontou: quando recebeu a primeira bola, matou no peito e empurrou, no contrapé da goleira do Náutico, para o fundo das redes. Depois, igualou a partida em um pênalti sofrido por Charrila, que também entrou no segundo tempo. Foi o terceiro do Sport, segundo de Jaci no jogo, décimo terceiro dela na competição.

Ainda assim, o resultado seria do Náutico, se não fosse o belo arremate de Keilinha, de fora da área, quase aos trinta, que estufou o barbante alvirrubro: era o gol do título, a redenção do Sport. Os torcedores do Náutico ficaram na bronca, reclamando da não-marcação de um pênalti, e de um gol anulado. Nada que atrapalhasse a festa das rubro-negras, que comemoraram – e muito – uma belíssima vitória, em uma virada emocionante. O leão passou, em minutos, do estágio de jogo perdido para tricampeão: coisa que só o futebol explica.

Desde o início, o técnico Bruno Angeiras mostrou-se extremamente confiante na equipe, tendo incentivado as atletas até o fim. Não concordava com quem defendia o favoritismo absoluto do Náutico, afirmando que o gol de Pitucha, ainda na primeira disputa da final, aos 47 do segundo tempo, credenciava o Sport ao título.

Acertou na leitura do jogo e, principalmente, nas alterações: grande fatia da conquista, sem dúvida, deve-se a ele.  Sport 4×3 Náutico foi a consagração de um treinador competente, que além de não ter se acovardado, muito menos jogado a toalha, mostrou que também sabe respeitar o adversário, impedindo que suas atletas comemorassem sobre o escudo do rival.

Nota: Agradecemos a contribuição primordial da Coordenadora de Futebol Feminino Nira e da Acessora de Imprensa Adja Andrade.

Felipe Resk,
Redação meuSport.com