“Queremos jogadores que queiram vencer”

O engenheiro civil e empresário Gustavo José Moura Dubeux, 43 anos, teve o seu batismo no futebol este ano. Ele assumiu a vice-presidência e sentiu na pele as dificuldades de comandar um clube como o Sport, que no ano do seu centenário não conquistou nenhum título e nem se classificou entre os oito da Série B do Campeonato Brasileiro. Dubeux, ao lado dos seus colegas de diretoria, sofreu uma forte pressão, cometeu alguns erros, mas abre uma nova perspectiva para 2006. Ele quer um grupo de jogadores comprometidos com o clube e um técnico disciplinador. Além disso, o orçamento para o futebol caiu bastante. Na entrevista ao repórter Henrique Queiroz, o dirigente revelou que a folha salarial ficará em torno de R$ 300 mil. É o Sport entrando numa nova realidade.


JORNAL DO COMMERCIO – Como tem sido a sua experiência no futebol. Você é engenheiro e empresário. Qual a diferença de administrar uma empresa e um clube de futebol?

GUSTAVO DUBEUX –
O futebol é como um negócio qualquer. Mas os componentes são outros. Você tem que lidar com a paixão das pessoas. Numa empresa, para fazer um empreendimento, há uma perspectiva, é mais consistente o retorno. É diferente de fazer um time de futebol. Há outros fatores que envolvem o sucesso. Basta lembrar o problema que ocorreu com a arbitragem na Série A do Brasileiro. São situações que fogem ao nosso controle.



JC – Tem sido boa a sua experiência no futebol? Aprendeu alguma coisa? Como lidar com as dificuldades financeiras no clube?


DUBEUX – Todo dia a gente aprende alguma coisa quando sai de casa. No futebol não é diferente. É um desafio muito grande lidar com a falta de recursos. Se o Sport tivesse obtido sucesso e tivesse voltado para a Série A, nós não estaríamos enfrentando dificuldades.



JC – Quais foram os erros da diretoria durante a temporada?


DUBEUX – É muito fácil ser engenheiro de obra feita. Acho que o fato que mais complicou para o Sport foi uma ânsia muito grande de ganhar títulos, porque era o ano do centenário do clube. Tivemos que formar o time durante as competições. Não tínhamos uma base e, por isso, não houve complemento do elenco. Fomos obrigados a formar o grupo. Os clubes do interior já estavam preparados fisicamente, o que é fundamental. A pressão pelo título foi o fator principal para não termos tido êxito. E veio a pressão em cima dos técnicos. Não suportamos e fizemos várias mudanças no comando (cinco treinadores).



JC – Por causa desses erros, vocês estão tendo muito cuidado na contratação do novo técnico. Qual será o critério para contratar novos jogadores?


DUBEUX – Queremos jogadores que queiram vencer, que encarem o clube com responsabilidade, que venham para ficar até o fim do ano e ajudem o Sport a conquistar os títulos que não obteve na temporada de 2005. Teremos de lutar pelo Campeonato Pernambucano, mas o mais importante será a luta para voltar à Série A.



JC – Vocês já fizeram a lista de jogadores?


DUBEUX – Estamos fazendo a análise desde o final da Série B e até durante a competição. Avaliamos alguns atletas. Agora, quando o técnico for contratado, vamos nos reunir para analisar os nomes, mas também vamos fazer as nossa ponderações sobre alguns nomes, pois tenho certeza de que alguns atletas estão em condições de defender o Sport.



JC – O presidente Luciano Bivar é muito criticado por causa da sua ausência no clube…


DUBEUX – Embora o presidente não esteja com sua presença física no clube, ele tem uma equipe de confiança. Temos dois vice-presidentes, como Luciano Monte e Manoel Gayoso, e temos ainda o diretor administrativo, que é o coronel Genivaldo Cerqueira. O Sport administrativamente, e também na parte fiscal, está muito bem gerido e com muita responsabilidade, o que é a orientação do presidente. Ele participa ativamente de tudo e também do futebol.



JC – O que o torcedor do Sport pode esperar para 2006?


DUBEUX – Vai esperar um time com muita garra e que vai honrar a camisa rubro-negra, pode ter certeza. Por isso, estamos tendo calma na contratação do técnico. Não adianta trazer qualquer um. Temos de contratar um treinador que se identifique com o Sport e também que tenha um elenco comprometido com o clube.



JC – Você está muito ligado na ampliação do Estádio da Ilha do Retiro, pois está sendo construída mais uma arquibancada. Vocês estão reformando os vestiários e o gramado. Qual o custo das obras?


DUBEUX – Para um treinador ter sucesso, precisa de um respaldo. Estamos procurando fazer isso agora. Vamos dotar o campo de uma condição melhor, estamos melhorando o vestiário, colocando uma grama sintética para o aquecimento dos atletas. Já temos os novos equipamentos de musculação. Estamos melhorando a concentração. O jogador que vier para o Sport, inicialmente não vai para um hotel, vai ficar na concentração até encontrar a sua morada. A ampliação está sendo paga com a venda dos camarotes (cada um custa R$ 25 mil) e das cadeiras cativas. Ainda não temos o custo total, porque varia muito.



JC – Como você está vendo o futebol atual, especialmente em relação às denúncias envolvendo a arbitragem.


DUBEUX – Não tenha dúvidas de que a questão da arbitragem preocupa. São fatos de que a gente desconfiava. Agora foi comprovada a manipulação de jogos. É triste para quem faz futebol, para o clube que investe.



JC – Você concorda com as três divisões, A B e C com 20 clubes cada uma?


DUBEUX – Estou vendo que vai ser uma primeira divisão forte, uma segunda forte e uma terceira forte. O Remo na Série C está colocando 40 mil espectadores no estádio. Na verdade, vamos ter 60 clubes nas três divisões. Agora, nenhum clube sobrevive na Série B e C, pois serão apenas 19 datas. Acho que poderíamos ter o Campeonato Pernambucano, mas também o campeonato regional. No segundo semestre poderemos ter as competições nacionais com 38 datas. Também não vejo necessidade de as competições pararem durante a Copa do Mundo.



JC – Qual o orçamento para futebol do Sport em 2006 e quanto será a folha salarial do futebol?


DUBEUX – Será um orçamento menor em relação a 2005. A nossa perspectiva de folha, juntando a parte salarial e o direito de imagem, ficará em torno de R$ 300 mil. O custo do futebol no total dá uma variação.