Viajando ou concentrado, alvo de brincadeiras

A simplicidade de Bria fazia com que ele fosse vítima constante de brincadeiras em viagens ou quando o time do Sport estava concentrado. Uma cena engraçada passou-se na Espanha, na célebre excursão do Sport à Europa, em 1956. Zé Maria, que era seu companheiro de quarto, estivesse onde estivesse a equipe rubro-negra, conversava alegremente no saguão do hotel com alguns jogadores do Vasco da Gama, que, também excursionando pelo Velho Mundo, hospedava-se no mesmo estabelecimento, quando surgiu a distância o massagista vascaíno Mão de Pilão, de físico avantajado e assustador. “Moreno, olha quem vem ali”, disse Zé Maria, o capitão da equipe da Ilha. O lateral ficou um pouco cheio de dedos, mas foi logo acalmado por Almir, o Pernambuquinho, que, havia pouco tempo tinha, ainda juvenil, trocado o Sport pelo Vasco, levado pelo empresário Cier Barbosa, que os dirigentes pernambucanos consideravam um aliciador. “Não tem problema não, ele não vai mexer com ninguém, já esqueceu. Mão de Pilão é gente muito boa”, disse Almir, para sossego de Bria.

É que pouco tempo atrás, os vascaínos, em excursão pelo Norte/Nordeste, tinham enfrentado o Sport, na Ilha do Retiro. Houve uma confusão, tendo Bria dado um soco de jeito no vascaíno Wilson, que ficou sangrando, tão poderoso tinha sido o golpe, digno de um pugilista. Formou-se um bolo de jogadores, e os cariocas resolveram partir para cima de Bria, que não teve dúvida – perna pra que te quero. Ficou até divertido para quem presenciou a parada. Bria corria na frente, em direção ao vestiário, perseguido de perto pelo zagueiro Beline e por Mão de Pilão. Chegou a entrar na barra do lado do placar, mas quando seus perseguidores chegaram, negaceou com o corpo, livrou-se com muita perícia e, enquanto os dois passavam direto e ficavam enganchados na rede, o jogador do Sport se mandava, indo abrigar-se na residência do dirigente Leopoldo Casado, enquanto o Vasco levava o caso para a polícia. Em Madrid, para felicidade de Bria, confirmando o que Almir dissera, Mão de Pilão não estava nem aí.

Na concentração de Caxangá – a casa antiga situada à margem do Capibaribe, perto da ponte que leva a Camaragibe, ainda existe –, Bria costumava dirigir-se ao mato, quase na beira do rio para tomar seus banhos de folhas. O mais das vezes, quando ele estava compenetrado, aparecia o atacante Djalma para botar tudo a perder, irritando profundamente o crédulo baiano, que logo estava às boas com o companheiro.

Chegado a um jogo de bicho, Bria o mais das vezes era despertado ao longo da madrugada, ora pelo falatório do goleiro Cazuza, ora do ponta-esquerda Elcy. “Tirem essa cobra daqui”. Ou “vai pra lá vaca”. Tudo de araque, pois os dois não estavam sonhando como parecia. Todavia, era suficiente para que ele no dia seguinte fizesse sua fezinha, acreditando piamente que se tratava de um palpite. Geralmente, quem servia de mensageiro na ida à banca, situada junto do posto de gasolina ainda hoje existente era um rapazola irmão de Bodinho, o célebre atacante do Internacional e da seleção gaúcha, que fora revelado pelo Íbis.

De certa feita, a “turma do mal”, que tinha entre outros o volante Laxixa, tanto que fez que descobriu o milhar em que Bria havia jogado. Lá para as tantas apareceu um, vindo da banca, anunciando o resultado, do primeiro ao quinto. Bria na cabeça, ou seja, o milhar de Bria na cabeça. Só que ele não dissera a ninguém que tinha acertado. Deu um tempo e foi lá caladamente receber o prêmio. Voltou subindo pelas paredes ao descobrir que tinha sido enganado.

Ultimamente, estava mais preso em casa, sendo cuidado por dona Lourdes, esposa, filhos e netos. Em dezembro do ano passado, alguns ex-jogadores reuniram-se no Restaurante Dom Pedro para um almoço de confraternização, e todos lamentaram a ausência de Bria, que havia garantido sua presença, mas não compareceu. A Dario Souza confessou que chegara a entrar num táxi, mas fora acometido de uma cãimbra que lhe tirou de tempo.

Por ocasião do centenário do Sport, o Jornal do Commercio reuniu os jogadores ainda residentes no Recife que tinham sido campeões do cinqüentenário (1955), para uma foto na Ilha. Embora na véspera Bria tivesse assegurado que compareceria, isso não aconteceu. Talvez fosse a doença ou o excesso de humildade. “Ele era muito tímido”, sentencia Zé Maria, com a concordância geral.