Remo resiste em lenta agonia


A próxima Copa Norte/Nordeste, marcada para os dias 26 e 27 de novembro, pode corroborar a agonia do remo pernambucano. A história recente já dá mostras de que esse esporte, que chegou a ser o mais popular, não só em Pernambuco, mas também no Brasil, até o estouro do futebol na segunda década do século 20, caminha para o ocaso. Este ano, após a segunda regata, o Náutico retirou-se do Campeonato Pernambucano e o Sport foi declarado campeão. Em 2004, os timbus alegaram que não tinham como treinar por causa das obras na Rua da Aurora e não houve competição. Isso sem falar no Barroso, que há 15 anos fechou as portas e transformou sua sede em casa de eventos.

As opiniões variam. Quem ainda tenta levar a modalidade adiante, vê uma luz no fim do túnel. Quem foi atleta, já dá o esporte como morto. As causas para a atual penúria também diferem. Para o presidente da Federação Pernambucana de Remo, Eudes Arruda, o problema é a falta de competitividade. “Se dois clubes estão se preparando bem para as competições, a tendência é o crescimento do esporte, mas isso não está acontecendo pelas desistências do Náutico”, diz.

No ano passado, por exemplo, os timbus não disputaram o campeonato, alegando que as obras do Cais da Rua da Aurora impediam o treinamento da equipe. “Mas isso foi durante um período curto. Na verdade, eles estavam com problemas internos, com remadores, e não tinham como competir. A federação tem feito calendário para o Náutico competir”, afirma.

Por causa disso, Eudes não acredita que os clubes pernambucanos façam grande coisa na competição regional. Ele aponta Bahia e Amazonas como os candidatos mais fortes a dominar a raia da Bacia do Pina.

O Sport, mesmo ainda fazendo um trabalho com muito esforço, sofre com os problemas financeiros. Aos trancos e barrancos, os apaixonados pelo remo é que o mantêm vivo na Ilha do Retiro. Mesmo assim, o clube já se mostra bem fora da realidade. De acordo com o coordenador e técnico da equipe rubro-negra, Marcos Souza, há 12 anos o Leão não compra um barco. “Está tudo defasado”, avalia, lembrando que um barco custa, em média, R$ 10 mil. O departamento, mensalmente, gasta em torno de R$ 5 mil.

Até no material humano, o bolso – vazio – do remo rubro-negro vai perdendo. E, curiosamente, para outros departamentos do próprio clube. No ano passado, três atletas trocaram os barcos pela quadra de basquete, seduzidos pelas boas propostas – ajuda de custo e bolsa de estudo. “Eram atletas promissores, de 1,90 m. Chegaram e me disseram que o basquete estava oferecendo bolsa de estudo e eles não podiam desperdiçar”. Na garagem da Avenida Beira-Rio, o máximo que um remador recebe é a passagem de ônibus. Quem mais ajuda é um grupo de dez ex-remadores que voltaram à ativa.

No Náutico, o técnico Dirceu Neves acredita que os constantes desentendimentos entre o alvirrubro, o Sport e a Federação Pernambucana de Remo são o maior entrave para o renascimento do esporte. “Os três nunca estão juntos, e isso termina enfraquecendo. Nós temos que brigar, no bom sentido, apenas dentro da água”, sentencia.

Mas o investimento é muito pouco para um clube que nasceu sob a égide do remo. Com um gasto mensal idêntico ao do Sport, os recursos vêm de amigos e do Conselho Deliberativo. Nenhum atleta é remunerado. “Há 15 dias, enviamos propostas de patrocínio para várias empresas. No Norte/Nordeste competiríamos com os nomes delas no uniforme e nos barcos.” Até agora, não houve resposta.

O sopro de vida que os dirigentes pernambucanos tentam dar ao remo agora responde pelo nome de Clube Internacional do Recife. Na verdade, trata-se do resgate de um esporte que fora praticado pelo clube nos idos de 1888. O Internacional tenta ressuscitar com barcos e remadores emprestados pelo Sport. No próximo ano, a agremiação já planeja competir com atletas próprios, pois está construindo uma garagem em Brasília Teimosa. “Em 2006, vamos entrar na categoria estreantes. Faremos parceria com a comunidade de Brasília Teimosa para formarmos os atletas”, avisa o diretor de remo do clube, Adílson Lira.