Entrevista com Gustavo Dubeux

O Sport está às vésperas de ter o Futebol transformado em departamento autônomo, desvinculado das outras esferas do clube. No próximo dia 27, o Conselho Deliberativo poderá aprovar
o novo estatuto da instituição, o que possibilitaria esta ação. Gustavo Dubeux é o mais cotado para comandar a nova era rubro-negra. Os motivos para o consenso em torno do nome são conhecidos: é homem de confiança do presidente Luciano Bivar, não temeu estrear como dirigente ocupando o cargo de vice-presidente de Futebol e também é bem visto pela torcida leonina. Em 2006, o desafio é tentar compensar as decepções do ano do Centenário com uma possível volta à Série A. Em entrevista à Folha de Pernambuco, este engenheiro civil, que prefere não revelar a idade, conta um pouco dos bastidores deste ano, adianta uma pitada do planejamento para a próxima temporada e demonstra bastante otimismo com o futuro da equipe.


        
O senhor deve continuar no comando do Futebol, mesmo estando o departamento numa possível condição de autonomia em relação a outros setores do clube. Quais as providências para a próxima temporada?
A princípio, temos que manter no clube uma base de 12 a 14 atletas que participaram da campanha deste ano e, depois, complementar o elenco de forma tal que consigamos cumprir um planejamento para iniciar o Campeonato Pernambucano de 2006 com o time já montado. Este ano, o Santa Cruz, apesar de ainda ter demorado um pouco para fechar a equipe, teve a vantagem da manutenção de boa parte dos jogadores do ano passado, isso ajudou bastante o nosso adversário no início das disputas. A próxima competição será iniciada no dia 11 de janeiro e nós temos que estar com tudo acertado para antes desta data, com uma antecedência maior, inclusive, que a do Santa nesta temporada


No final das contas, com a perda do Pernambucano e a eliminação precoce do time na Série B, o senhor considera a permanência na Segundona algo significativo para o clube?
Quando iniciamos o ano, a expectativa da diretoria, pelo esforço que fizemos, empenho do presidente Luciano Bivar e de todos os diretores, era a de levar o Sport à classificação aos quadrangulares semifinais e, depois disso, batalhar pelo acesso à Primeira Divisão. Achávamos a conquista do Pernambucano muito difícil, por conta do pouco tempo que tivemos para montar o elenco. Agora, diante das circunstâncias apresentadas no final da temporada, a permanência na Série B, não cair para a Série C, foi muito importante. Ano que vem, teremos tempo para formar o novo grupo, devem subir quatro para a Série A e as perspectivas de subir são bem maiores.


        
Assim como na última temporada, o Sport permanecerá quatro meses sem disputar competições oficiais. Defender os moldes atuais da Série B no começo do ano não foi algo prejudicial?
A nossa posição em relação a esta questão foi correta, afinal, estávamos partindo do zero e, convenhamos, era bem mais fácil tentar ficar no G8 e, nas fases seguintes, lutar de igual para igual com os outros adversários do que apostar numa competição de pontos corridos e ter de terminá-la em primeiro ou segundo lugar. Não dava para imitar os moldes da Série A, porque até o 11° colocado ganha alguma coisa ao término do campeonato (vaga para a Sul-americana). Ano que vem, teremos 38 datas para confeccionar a tabela da Série B, há previsão de acesso para quatro equipes, acreditamos que a competição será bem mais rentável e nós estaremos bem montados para entrar forte desde o início da disputa. As condições serão bem mais favoráveis que as da temporada atual.


        
A torcida, em programas de rádio e nos sites, criticava bastante a direção. Como as decisões eram tomadas?
O Departamento de Futebol entrava num consenso. Posso dizer que todos os diretores, eu, Costinha, Eduardo Monteiro, Ricardo Brito, Marcos Amaral, Milton Bivar e Guilherme Beltrão, que formamos o Futebol, tiveram o máximo de empenho e colaboraram dentro das suas possibilidades e capacidade. Quando há êxito, ele deve ser dividido por todos que compõem determinado grupo. Os insucessos devem ser tratados da mesma forma. Iniciamos o ano do Centenário com muita cobrança e pressão. Montamos o time da forma correta. Já que não tínhamos uma base montada, procuramos atletas que vinham atuando bem e se destacaram em anos anteriores. Ainda mantenho a posição de que poderíamos ter ido melhor no Brasileiro. As derrotas para Avaí, onde fomos prejudicados pela arbitragem, e Criciúma, quando respeitamos demais o adversário, foram cruciais para a eliminação.


        
O técnico Edinho Nazareth, quarto treinador a passar pela Ilha do Retiro este ano, afirmou à imprensa que “não se monta time contratando os destaques da revista Placar”. O senhor concorda com esta crítica? 
Edinho Nazareth quis dizer que, quando se tem tempo para trabalhar as contratações, monta-se uma equipe na base do conhecimento técnico. Mas nenhum dos diretores do Sport abriu a revista Placar para trazer atletas. Os contatos eram feitos depois de muitas observações e avaliações. Fui assistir ao desempenho de alguns contratados em jogos, outros companheiros fizeram a mesma coisa, e os caras estavam jogando bola. Infelizmente, quando o time não ganha campeonatos ou não chega nas fases seguintes, acaba aparecendo todo tipo de defeito. O elenco que montamos este ano continua sendo considerado um dos melhores da Segunda Divisão. A prova disso é que, mesmo o Sport sendo desclassificado ainda na primeira fase, vários clubes da Série A estão vindo atrás para contratar os nossos atletas.


        
A quantidade de treinadores contratados este ano, cinco ao todo, foi um capítulo à parte. Por que tantas mudanças?
Estão questionando o porquê de o Sport ter mudado tantas vezes de treinador. Havia muita cobrança para que trocássemos de treinador. Heriberto da Cunha trabalhou no clube no final da Série B de 2004, tinha sido mantido para a temporada atual e sofremos bastante pressão para tirá-lo do cargo. Fizemos isso na sexta rodada do Primeiro Turno do Campeonato Pernambucano. Não houvesse tanta pressão, talvez Heriberto tivesse continuado e feito um bom trabalho. Será que não foi por conta da pressão da própria imprensa e da torcida? Na verdade, todo mundo estava ansioso por bons resultados. Sei que o correto é trocar o menos possível, desde que haja clima para trabalhar. O nosso segundo técnico (Adílson Batista), por exemplo, que considero de excelente qualidade, pediu para sair depois do fracasso no Estadual. Também poderia ter continuado com a gente. Enfim, as cobranças eram muito fortes e a torcida estava ansiosa por títulos, porque sofremos bastante na temporada passada e o ano do Centenário é realmente emblemático. Ainda não temos o nome, mas o próximo técnico tem que conhecer a Série B, ter o comando do elenco e ser bastante experiente no meio.


        
O presidente Luciano Bivar revelou que o clube, somente neste ano, quitou R$ 1,4 milhão em dívidas trabalhistas, um dos motivos para querer dar autonomia ao Departamento de Futebol. Este foi o maior obstáculo encontrado pela diretoria?
As questões das dívidas trabalhistas do clube atrapalham, mas é normal isso acontecer de uma gestão para outra. Mudam as pessoas, porém a instituição continua sendo a mesma. Tivemos que assumir o passivo, mas, no fim das contas, acaba fazendo parte das nossas funções. Esta, entretanto, não foi a barreira principal. Aliado a isso, teve a inadimplência de R$ 600 mil do Vitória (dívida relacionada à aquisição dos direitos federativos do meia Cléber, após o término do Campeonato Brasileiro da Série B de 2003), o fato de termos formado o elenco com o Campeonato Pernambucano em andamento e a pressão exagerada por resultados positivos.


        
Após a derrota para o Criciúma, o senhor não escondeu a decepção com as travessuras dos deuses do futebol. Parecia, até, disposto a abandonar o barco. Depois de a poeira baixar, qual é o sentimento?
A verdade é que o futebol é apaixonante exatamente por ser uma ciência inexata. Aqui no Sport, fizemos tudo que julgávamos ser o correto: trouxemos bons jogadores, oferecemos a estrutura total necessária e cumprimos com todas as nossas obrigações financeiras, ou seja, não faltou nada. Dentro do que podemos chamar de uma teoria, tudo foi executado de forma correta. Infelizmente, por causa de detalhes que fogem à nossa alçada, por uma situação circunstancial, não conseguimos alcançar os resultados dentro do campo, como coloca o próprio presidente (Luciano Bivar). O Sport não chegou, mas tínhamos time para chegar.