O que realmente aconteceu, em 5 tópicos

Pelo segundo ano consecutivo nós não vamos sequer nos classificar para a segunda fase da Série B, e mais uma vez vamos lutar contra o ectoplasma do rebaixamento à Terceirona. Essa quarta temporada que completamos longe da elite do futebol nacional escancarou os problemas gerenciais do clube e fez acender a luz vermelha: ou algo é feito com urgência para o ano que vem ou corremos o sério risco de tirar do 3° Maior Time de Pernambuco o privilégio de ser a única equipe grande do Estado a jogar a Série C. Como? Ah, você disse que “o campeonato ainda não acabou e ainda existem chances matemáticas de classificação, além de a queda para a Terceirona ser improvável”. Se você pensa assim, acorde para Jesus: um time que perde os pontos que o Sport perdeu este ano – nove deles dentro de casa – não tem a mínima condição de ganhar os três jogos restantes. E se você acha que cair é difícil, lembre-se que o grupinho da ponta de baixo da tabela está reagindo e ganhando moral para as partidas finais. Em suma, é bom rezar.


Estive pensando seriamente sobre as lambanças do Sport neste já malfadado 2005, e eis alguns tópicos que podem nos ajudar a entender o que está se passando com o nosso time.


1 – ELEIÇÃO DA DIRETORIA ERRADA


O atual presidente do Sport, eu já disse e repito, é uma pessoa com uma extensa folha de bons serviços prestados ao clube. Mas não dá para confiar os destinos de uma agremiação do vulto do Sport a uma pessoa que não dá as caras no clube, e que ainda coloca como vice-presidente uma pessoa com um passado no mínimo nebuloso. Os sócios caíram feito patinhos no conto do “ele tem dinheiro e vai montar um supertime para que a gente ganhe tudo”. O presidente até que abriu os cofres e trouxe um bom elenco para a Ilha, mas aí vamos entrar no segundo ponto.


2 – FALTA DE PLANEJAMENTO


Um ano tão importante como o centenário do Sport precisava ser planejado com, no mínimo, dois anos de antecedência. E o que foi feito? Para montar a comandar o time foi efetivado Heriberto da Cunha, um treinador limitado e que veio para salvar o time da degola em 2004. Tudo bem, eu sei que Émersom Leão era um sonho impossível, mas manter Heriberto foi broxante para o início de temporada. Claro que não poderia dar certo, e aí veio Adílson Batista. Discípulo de Felipão, enganou a quem achava que ele manteria o elenco a rédeas curtas. Passou maus bocados com os atletas, e a dispensa de Cleisson, um ídolo incontestável da torcida, é o exemplo mais emblemático. Achando pouco o número de treinadores inexpressivos, a diretoria saca Zé Teodoro como salvador da pátria. Esse é o mais boquirroto de todos que passaram pela Ilha em 2005: ficou ridiculamente famoso pelo malogrado “pacto dos 12 pontos” e caiu após a derrota para o Anapolina. Próximo da lista: Edinho Nazareth. Quem viu os dois primeiros jogos do camarada à frente do time – vitórias sobre o 3° Maior Time de PE, em casa, e sobre o Caxias, fora – imaginou que ele seria o verdadeiro redentor. Puro engano, demonstrado na incrível derrota para o lanterna Criciúma e pelo chocolate que – mais uma vez – levamos do Marília. Mas você vai se perguntar: e a culpa é só dos treinadores? Claro que não, e isso é assunto para o próximo tópico.


3 – CONTRATAÇÓES AMALUCADAS


Muitas equipes da Série A não possuem em seus elencos atletas do quilate de Russo, Sandro, Léo Oliveira, Marquinhos, Allann Dellon, Adriano Chuva, Vinícius, Lúcio, Rinaldo, Maizena, entre outros. Prova de que, pelo menos na hora de abrir o cofre, a diretoria honrou a palavra. Mas no futebol as melhores contratações nunca surtem efeito quando não há uma estrutura sólida – leia-se “treinador competente” e “presidente presente” – para ampará-las. Ao montar uma mini-constelação, o Sport acabou pagando um preço, literalmente, alto. São notórias as igrejinhas no elenco, e a disposição de defenestrar quaisquer treinadores que não se “encaixem” no “perfil” desejado pelos atletas. Sem estrutura, planejamento e bom corpo técnico, até grandes elencos padecem, o que é tema do próximo item.


4 – VACILOS INEXPLICÁVEIS


Jogar em casa virou tormento para o Sport. Só nesta Série B foram, até agora, três partidas (nove pontos) perdidas dentro da Ilha do Retiro invariavelmente lotada. Contra o Santo André o time até que jogou bem, mas “deu” os dois gols que decretaram a vitória dos paulistas. Já o jogo do Grêmio foi mais morno, e o time realmente mereceu perder. O que não é justificável é levar fumo do lanterna do campeonato justamente quando nós esboçávamos uma reação. Não fossem as duas vitórias fora de casa (contra Paulista e Caxias) estaríamos hoje bem perto da Terceirona. Depois de tudo isso você ainda pode pensar em uruca. Eu prefiro colocar as coisas predominantemente no plano terreno, mas é preciso admitir que existe uma energia estranha sobre nosso clube, e esse é o tema do último tópico.


5 – QUANDO O OLHADO É GRANDE


Que Os Outros FC sempre foram fraternalmente unidos contra o Sport não é novidade. Que somos o alvo preferido de gozação deles (que nunca gréiam um com o outro) também não. Mas neste 2005 a coisa tomou proporções dignas de serem estudadas pelo Espiritismo, pela Umbanda e pela Mãe Dinah. Para “Eles” era uma necessidade imperiosa que não ganhássemos nada nesse ano, e por isso a secagem foi quadruplicada. Some-se a isso o fato de nossa própria torcida por muitas vezes atrapalhar com seu nervosismo e seu alto nível de cobrança. Assim até Deus iria estrilar na hora de dar uma bênçãozinha ao Sport…


É, minha gente, foi mais ou menos isso que aconteceu. Concordo que o ano ainda não acabou, e que ainda existem três partidas para serem disputadas. Mas com todo esse histórico descrito acima, você acredita que algo vai mudar? Eu não, e que venha um 2006 bem melhor para nós.

Adelmar Bittencourt ama o Leão da Ilha sobre todas as coisas e desenvolveu uma grave alergia a cobras e timbus.