Entrevista com Edinho Nazareth

Aos 50 anos, e mais de dez de carreira como treinador, o ex-zagueiro da seleção brasileira nas copas de 78, 82 e 86 aceitou o desafio de, em sete jogos da Série B, fazer o Sport vencer cinco para poder passar às semifinais. Edinho começou vencendo dois (Náutico e Caxias-RS), mas terça-feira perdeu, na Ilha, para o Criciúma-SC. Das quatro partidas restantes, o Sport precisa vencer três. O treinador acredita que a meta pode ser alcançada, e que o elenco do Sport tem possibilidades de mostrar um futebol vistoso, pela qualidade de algumas peças. Por outro lado, reconhece que por ser um time experiente, rodado, dificilmente terá uma atuação quente, como torcida quer. Em entrevista ao JC, o técnico não conversou apenas sobre o Sport, mas contou sua história de sucesso no futebol nacional, falando de como foi iniciado como treinador.


JORNAL DO COMMERCIO – Quando você resolveu ser jogador de futebol?
EDINHO NAZARETH – Não me lembro de ter essa pretensão. Lembro de as coisas terem acontecido naturalmente. Eu jogava em Copacabana (Rio de Janeiro). Era um bom atleta e gostava do esporte. Foi uma tendência natural. Em uma época, houve um teste no Fluminense e decidi participar. Acredito que se não fosse naquele dia, seria num outro. No Fluminense, fui aprovado e iniciei minha carreira com 13 anos. Passei pelo infantil, juvenil, júnior e profissional.

JC – Que recordações você guarda da época de atleta?
EDINHO – Muita coisa. Tudo de bom e ruim que aconteceu comigo foi no futebol. As principais lembranças são as conquistas. Uma coisa importante foi a minha ida a uma olimpíada, em 76, em Montreal. Isso foi importantíssimo, porque vivi passagens interessantes. Ter participado de todas as seleções brasileiras de base e de três Copas do Mundo (78/82/86) também.

JC – O zagueiro Edinho era um bom jogador?
EDINHO – Um grande jogador. É difícil participar de uma seleção sem ser um bom jogador. Mais difícil é participar de uma copa, e quase impossível, de três. Tem de ser bom para ser escolhido. Eu era um zagueiro com uma nota entre 8,5 e 9. Sem falsa modéstia, conseguia reunir a técnica e a virilidade.


JC – Existem diferenças da época em que você atuou para a atual?
EDINHO – É difícil comparar. Existe uma evolução natural. As informações vão aparecendo, as regras mudando. A própria preparação física evolui. O que posso dizer é o seguinte: os grandes jogadores de antigamente atuariam hoje. Eu também.


JC – Quando veio a idéia de ser técnico?
EDINHO – Depois dos 30 anos, comecei a pensar no assunto. Por quê? Sempre fui líder nas equipes pelas quais passei. Depois dos 30, me sentia muito importante porque os próprios treinadores queriam saber a minha opinião. A partir daí, comecei a questioná-los. O que eles faziam, o que falavam, o que era certo, o que era errado. Percebi que a principal dificuldade dos técnicos era a falta de informação do grupo. Para mim, que já pensava como treinador, tudo era fácil de solucionar. Porque tinha as informações, questionava os técnicos e era líder. Quando parei de jogar e entrei naturalmente na área. Só que aí me vi na situação dos treinadores que questionava, porque agora não tinha mais acesso àquelas informações.

JC – Como você procurou resolver isso?
EDINHO – Não tem como resolver. Quando se tem acesso a elas, sabe-se tudo o que vai acontecer nas quatro linhas, no grupo. Você tem todas as soluções. Quando não se tem, fica difícil implementar o trabalho. Às vezes, a gente vê as coisas não acontecendo como deveriam, e não sabe o motivo. E aí se tenta atirar para tudo que é lado, não acertando. O que seria mais fácil para mim, é justamente ter a continuidade do trabalho. Aí pode-se obter todas as informações desejadas, porque as pessoas vão se conhecer. Vai existir uma empatia e uma confiança, coisa que não se adquire em 10 dias.


JC – Como treinador, qual é a sua linha?
EDINHO – Minha linha depende do tempo disponível para o trabalho. E certamente não é essa que estou adotando. E não tenho outra maneira de chegar e tentar motivar os jogadores, dar confiança ao elenco. No fundo, não sei até quando vai durar isso, porque não conheço a totalidade das situações. Nem eu, nem eles também. Só se soluciona essas questões com tempo e envolvimento com os atletas.


JC – O elenco do Sport é bom como se prega desde o início do ano?
EDINHO – Não me sinto em condições de responder porque estou entrando no clube agora. Posso dizer o seguinte: não é certo formar um time com atletas que se deram bem em outras equipes. Não é certo porque se tem de formar um time de futebol, e não ícones. Tem que inserir o contratado no seu contexto. Tanto é que a equipe, desde o início do ano, ainda não se formou. Vejo no papel uma boa equipe, mas um bom grupo é aquele que mostra isso dentro de campo, e tenho passado esse aspecto para os jogadores. Acho que eles têm que se comprometer, porque existe a boa vontade da diretoria, mesmo que o caminho das contratações não fosse o correto. Não quer dizer que esses jogadores não vão, daqui para frente, mudar a situação. Acreditamos nisso.


JC – Mesmo com times medianos, o Sport crescia com a empolgação da torcida. Nas últimas grandes partidas na Ilha, os atletas não se empolgaram com o calor da arquibancada. Falta sensibilidade?
EDINHO – Não posso entrar em detalhes, porque não detectei muitas coisas, e não vou detectar até o fim do ano.

JC – Faltando pouco tempo para encerrar a fase, a classificação é muito difícil e você é novo no clube. Como funciona a cabeça de um treinador na sua situação?
EDINHO – A única maneira é levar na empolgação e detectando, dentro do possível, se existe alguma força contrária que possa ser eliminada. Se não existe nenhuma força contra, tem de achar uma maneira de empolgá-los para que busquem os resultados. Eu vim acreditando na situação. Lógico, para mim a situação é ainda mais difícil.


JC – Por quê?
EDINHO – Eu cheguei e peguei um grupo que não foi montado por mim. Não posso, certamente, jogar como gostaria. Tenho de fazer o grupo atuar de acordo com o que eles podem. Não posso trazê-los para mim, tenho de ir ao encontro deles. Mas no fundo não é assim. Tenho de montar uma equipe como a imagino. Ainda mais encarnando esse espírito do Sport. Eu vi na terça-feira. Realmente falta muita coisa. Pode ser que estejamos querendo algo que eles não tenham para dar. Acho também que este time não vai dar o calor que a torcida espera. Esta é uma equipe de jogadores experientes, que raciocinam mais, mais vividos, mais sofridos. E diante de uma situação que eles não podem dar mais, abatem-se um pouco.


JC – E se dessem a você a responsabilidade de restruturar o Sport em 2006?
EDINHO – O caminho que adotaria não seria o de pegar uma revista Placar e ficar escolhendo jogadores que melhor se destacaram em cada equipe. Não se forma uma unidade assim. E futebol se vence com um conjunto. Seria formado um elenco com a cara do Sport. Com jogadores guerreiros. Não estou dizendo que os daqui não sejam. Mas tem que introduzir essa filosofia. Como se faz isso? Com trabalho. Você tem de entrar no time junto com os jogadores. Só assim terá condições de detectar e de encarnar aquilo ali. “Eu quero isso e vamos atrás disso”. Quem quisesse vir atrás de mim, tudo bem. Do contrário, estaria fora.