Craque de porcelana


A terceira contusão muscular sofrida pelo lateral-direito Russo – dessa vez na panturrilha esquerda, sendo as anteriores nas virilhas direita e esquerda –, na Série B do Campeonato Brasileiro, além de certa irritação, suscitou uma indagação. O que estaria acontecendo com os músculos do atleta, que já foi considerado um dos maiores alas brasileiros? No que se refere à parte clínica, o médico do Sport, Stemberg Vasconcelos, dá seu veredicto: Russo não estaria agüentando as cargas físicas diárias. De acordo com outra opinião, a do fisiologista Inaldo Freire, o pernambucano, com passagens pela seleção brasileira e por grandes clubes do Brasil, como Vasco e Santos, passa por uma espécie de estresse emocional, que poderia estar resultando nas contusões sucessivas.

A história é mais ou menos assim. A pressão atual vivida no Sport é tamanha que ocasiona no jogador uma espécie de desequilíbrio emocional, acarretando erros freqüentes de informação entre o cérebro e os músculos, culminando nas contusões. Inaldo enfatiza essa possibilidade porque não crê que o estresse de Russo seja físico. A explicação é óbvia: o lateral é submetido aos mesmos exercícios que os companheiros – nada mais, nada menos. Ressalte-se aí um trabalho físico correto, aplicado pelos profissionais que passaram pelo Leão, este ano.

No intuito de diminuir os efeitos maléficos dos exercícios no seu corpo, a cada visita ao Departamento Médico, a Russo é prescrito um trabalho de reforço muscular. A informação dos integrantes do DM é que, de modo algum, ele tenha retornado aos campos para jogar, precipitadamente. “E isso é fácil de perceber. Ele nunca contundiu o mesmo músculo. Sempre que se machuca, é algo novo”, explicou Stemberg Vasconcelos.

Russo está no Sport desde fevereiro. Antes, travou uma luta jurídica com o Spartak, de Moscou, que o deixou sete meses sem jogar. Ao se apresentar na Ilha do Retiro, passou por um “tratamento de choque”, tendo sido “internado” no próprio clube para treinar em três períodos por dia, duas semanas. Passar tanto tempo sem jogar é um fator de risco. Contusões se multiplicam logo após os primeiros jogos. O que não ocorreu. “Naquela época, ele deixou de jogar poucas partidas, mais por causa de dores musculares, e não por conta de contusões sérias”, lembra Stemberg.

Em 2000, quando retornou pela primeira vez ao Sport após peregrinar por alguns clubes do Brasil, Russo chegou a ser desligado do elenco, por causa do comportamento irresponsável, que incluía noitadas e faltas aos treinos comandados por Emerson Leão. Só foi aceito novamente após sua mãe fazer um apelo ao treinador.

Não se sabe se Russo se cuida fora de campo como deveria. Sabe-se, porém, do seu invejável condicionamento. “Ele é um privilegiado”, confirma Freire. Há cerca de um mês, o elenco foi submetido a testes físicos periódicos. No Io-Io Test, em que a velocidade de corrida dos jogadores é aumentada de tempo em tempo, foi ele quem atingiu a maior marca. “Isso faz com que se configure um atleta de alto nível de resistência nas subidas e descidas em campo”, diz.