Vinícius entre vaias e aplausos


Contratado a peso de ouro para resolver os problemas de gol na Ilha do Retiro, o atacante Vinícius vem tentando driblar a frustração de não cumprir a missão a contento. Desde o início do ano na Ilha do Retiro, só marcou cinco gols com a camisa do clube, todos no Campeonato Pernambucano – não está computado o jogo de ontem, em Salvador, contra o Vitória, pela Série B. Sua fórmula para tentar compensar a falta de gols é dar sangue em campo, um estilo que começa a agradar parte da torcida rubro-negra, que o aplaude quando é substituído, enquanto outra parte prefere vaiá-lo.

Na partida contra o Ceará, por exemplo, o jogador desperdiçou um pênalti. Ao ser substituído, foi vaiado. Mas não deixou de ser recebido também com um caloroso aplauso. Não deu para comparar qual som foi mais alto.

Se for para fazer uma pergunta sobre a sua má fase, que não seja do tipo que possa colocá-lo em xeque com o elenco. “Aí fico com raiva”, declara. O grupo rubro-negro representa tanto para Vinícius, que ele não emite opinião quando indagado se o fato de não estar conseguindo reeditar outras boas participações na carreira tem a ver com o ainda precário entrosamento do Sport.

Apesar de muitos acreditarem no oposto, Vinícius demonstra estar satisfeito com o seu trabalho. Prefere acreditar que a fase ruim está passando, principalmente após a chegada do técnico Zé Teodoro. Ele deixou de ser o atacante estático da “era Adílson Batista”, para se tornar o dinâmico armador de jogadas e voluntarioso marcador. Mas ainda está sem fazer gols.

“Sei que tenho de fazer o gol. Mas quando um atacante está com dificuldades, deve tentar ajudar de outra forma. Com a nossa ajuda na marcação, por exemplo, a bola tende a chegar mascada para a zaga. Uma hora, com o tempo, o gol vai sair. Não vou desistir nunca”, diz. “Acho que isso também é uma questão de sorte.”

A má fase parece mesmo não abalar Vinícius. Ele diz que está mais feliz agora. O grupo, nitidamente, está mais animado. Mais unido. “Está dando para notar isso, não é?”, perguntou o jogador. Nem as críticas de parte da crônica esportiva o abalam.

Segundo o atacante, ele consegue absorver bem as mais ferinas opiniões. Mas ressalta a coerência, em especial, de um comentarista: a do ex-volante Zé do Carmo. “Muitas vezes, as críticas acontecem só para que profissionais façam seu nome em cima de nós.”

Em Fortaleza, em 2002, viveu uma grande fase na sua carreira. Depois de ter passado por grandes clubes brasileiros, como Flamengo, Fluminense e Palmeiras, foi no Nordeste que o atacante, hoje com 31 anos, mostrou sua veia de artilheiro. Foi o maior goleador da Série B, com 22 gols, e ainda subiu o tricolor do Pici para a Série A. Era o capitão e formava um ataque devastador ao lado de Finazzi, mais fixo na área, e Clodoaldo.

Em 2002, conheceu-se também um lado de Vinícius, até certo ponto, violento para os parâmetros traçados no futebol. Além de ter participado do lance que gerou a fratura do tornozelo esquerdo do zagueiro Clécio, envolveu-se numa briga com o lateral Juca, do Criciúma, no último jogo da final da Série B. Desculpado pelos dois atletas, resolveu deixar de lado seu jeito destemperado. “Eu era o único prejudicado. Além disso, prometi à minha mulher que não ia mais ser expulso”, brinca, descontraidamente.

De lá para cá, conta nos dedos as vezes em que não esteve em campo por suspensão. “Ano passado, no Paysandu-PA, não tomei cartão. Este ano, fiquei de fora de um jogo porque tomei três cartões amarelos”, destaca. “Estou mais disciplinado. Quando entrava em campo me transformava. Agora, só quero jogar futebol”, diz.