Torcida rubro-negra aposta nos sem-fama

As contratações de “peso” do Sport, este ano – o meia Lúcio e o atacante Rinaldo são dois exemplos, cujos salários ultrapassam a barreira dos R$ 30 mil/mês -, fez o torcedor se cansar dos “medalhões” rubro-negros.


Aos poucos, um fenômeno se propaga. Está em baixa gritar pelos nomes do zagueiro Sandro, do meia Éder, e muito menos do atacante Vinícius, todos com vencimentos de dar inveja a qualquer executivo de multinacional. A moda agora é torcer pelos “sem-fama”. Na partida contra o Guarani-SP, o atacante Bibi, vindo do modesto Ypiranga, de Santa Cruz do Capibaribe, foi ovacionado pela torcida, antes de substituir Leanderson. Quinta-feira foi a vez de Marcos Tamandaré, ex-Porto, ganhar os aplausos da galera que assistia, na Ilha do Retiro, a um dos treinos preparatórios para o clássico de ontem.


A mudança repentina de parte da galera vai de encontro a uma exigência que beirava a prepotência. Aos atletas formados na casa, por exemplo, dificilmente era concebido o direito de errar, sob pena de serem vaiados, sem o mínimo de pudor.


A “queda” por jogadores famosos, mesmo que em fim de carreira, sempre fascinou os rubro-negros. Uma reação típica de um torcedor que, conscientemente ou não, se esquece de um detalhe devastador: o clube é tão endividado quanto outras agremiações futebolísticas do Nordeste.


A mania foi alimentada pelos dirigentes. Ao longo dos tempos, sempre abriram os cofres para trazer atletas como Dadá Maravilha, Éder, Leão, Wilson Gottardo, entre outros, com salários para lá de rechonchudos.


Há dois anos, o Sport tenta, sem sucesso, montar uma equipe. O valor das últimas folhas salariais é fora da realidade local. Basta dizer que a do ano passado ultrapassou os R$ 450 mil. A deste ano, já vai nos R$ 550 mil, e o time ainda não engrenou na Série B do Brasileiro.


O técnico Zé Teodoro tem a explicação na ponta da língua para essa nova ordem dos leoninos. Segundo ele, só agora todos estão vendo que nome não joga futebol. “Hoje tem de existir o esforço. Tem de se vestir a camisa do clube com honra e jogar com raça”, explica. “A torcida está notando isso, daí começa a vibrar por aqueles que estão buscando a sua vaga no time, e são desconhecidos”, teoriza.


Para os que fazem parte da ala dos “sem-fama”, é uma ótima oportunidade de ganhar uma chance e jogar diante da benevolência dos “arquibaldos”. “Ter o apoio da torcida é essencial para desenvolver um bom futebol”, disse o zagueiro Baggio, 22 anos, que até ontem ainda não tinha estreado. “Venho de um time grande, o Corinthians, e sei o que é a cobrança da torcida. Mas sei que, se outros desconhecidos estão entrando no time, pode acontecer comigo também”, afirmou o atacante Rafael Silva, 22, recém-contratado como uma espécie de aposta.


A opinião da torcida sobre a mudança de postura dos rubro-negros é única: “O torcedor está cansado desses medalhões que aparecem na Ilha”, esbravejou o estudante de administração, Fernando Martins, 28 anos. Ele cita um exemplo: “Nos últimos dez anos, qual medalhão contratado virou ídolo? Nenhum. Os últimos ídolos foram Nildo, Juninho Pernambucano, Chiquinho, Leonardo. Todos contratados de times da Região ou vindos das categorias de base do próprio clube”, diz.


Leandro Cunha, 23, não vê com bons olhos o que chama de “falta de pulso” dos atuais dirigentes. Ele credita a isso a nítida falta de vontade de alguns jogadores com salários estratosféricos. “


O Sport perdeu para o Ituano, num jogo em que os atletas não mostraram vontade em campo. Faltou puni-los. Se não multando, que fosse colocando o grupo para treinar em dois expedientes durante toda a semana”, decreta.