Um capitão que não tem sangue de barata


JOSÉ NEVES CABRAL O capitão Sandro, 32 anos, aprendeu a ser campeão no Sport desde as categorias de base. No time principal, conquistou o Estadual e o Nordestão, em 94, numa geração que contava com Juninho Pernambucano, Chiquinho, Leonardo, Lima, Adriano, entre outros. Após se destacar em equipes como Santos e Botafogo, o zagueiro voltou este ano disposto a conquistar um título histórico para o clube, o do centenário. Mas o título não veio. E Sandro não faz questão de esconder a frustração. Afinal, como uma verdadeira cria da Ilha, sabia da importância da conquista. Ele não nega que em alguns momentos, no Pernambucano, enervou-se durante as partidas, principalmente quando julgava que os árbitros cometiam erros contra o Sport. “Não tenho sangue de barata”, declara o jogador, que, na foto acima, está sendo contido por jogadores do Náutico após ser expulso no clássico, nos Aflitos, quando o Sport perdeu por 4×2 e ficou fora da briga pelo segundo turno. Agora, mais tranqüilo, ele acredita que a fase má passou e que o Sport vai reencontrar seu caminho na Série B do Brasileiro. “O time está mais entrosado.”


JC – Você voltou a Pernambuco para encerrar a carreira no Sport ou tem mais sonhos após essa segunda passagem pelo clube?
SANDRO – Não me imagino vestindo outra camisa, em Pernambuco, que não seja a do Sport. Agora, ainda tenho sonhos, caso deixe o Sport, para jogar em outros clubes. Mas o que quero mesmo é parar por aqui. Por isso mesmo, recusei algumas propostas que recebi após o Estadual, porque meu objetivo é colocar o Sport na Primeira Divisão do Brasileiro.



JC – Durante o Campeonato Pernambucano, você chegou a ser expulso em alguns jogos. O seu nervosismo vinha da responsabilidade de um jogador criado no próprio Sport estar perdendo um título importante para a história do clube?


SANDRO – Sim, aliás, é a primeira vez que alguém fala exatamente o que eu estava sentindo, a responsabilidade de saber que aquele era um título muito importante para o clube e, eu, como um jogador nascido aqui, queria muito conquistar.



JC – Você estava nervoso com os árbitros que, na sua avaliação, prejudicavam o Sport, e com o time, que não rendeu todo o potencial?


SANDRO – Eu senti que o Sport estava sendo roubado. Esta é a grande verdade, infelizmente, e vi que nosso time podia render um pouco mais e não conseguia. Isso me deixava nervoso, com raiva. Não que não quisesse render, mas não conseguia. E isso me deixava chateado, porque eu voltei para fazer história de novo no Sport. E ficava preocupado, mas, agora, na Série B, isso não está mais acontecendo.



JC – Qual a impressão que você teve daquele time do Sport que disputou o Pernambucano e deste que está começando a Série B?


SANDRO – No Pernambucano, a equipe estava desentrosada. Houve também a mudança de treinador e é difícil trabalhar assim. Agora, com Zé Teodoro, acho que a equipe está entrando no ritmo que ele quer.



JC – Como capitão do time, você seria capaz de pedir ao treinador para substituir um companheiro que não está bem, ou não está se empenhando?


SANDRO – Impossível, não é esta a minha forma de trabalhar. O treinador é pago para ver essas coisas.


JC – Mas você ficou chateado com o comportamento do time em alguns jogos do Pernambucano?


SANDRO – É claro que qualquer um fica chateado. Eu, particularmente, não tenho sangue de barata. Mas jamais vou entregar qualquer companheiro para um treinador. Cada um sabe, na sua consciência, até onde pode render.