Governo cria loteria para ajudar clubes

O presidente Luís Inácio Lula da Silva mal assinou a medida provisória que cria a Timemania, loteria feita para sanear as finanças dos clubes, a Caixa Econômica Federal já estima que no primeiro ano a Timemania renderá cerca de R$ 500 milhões. O valor é pouco mais de um quarto do que o governo federal arrecadou em 2004 com a Mega-Sena (R$ 1,9 bilhão). Cada aposta custará R$ 2. A loteria deve estar disponibilizada em seis meses.

Do que for arrecadado com a Timemania, 25% irão para os clubes (65% disso para os times da Série A, 25% para os da B e 10% para os da C). Do restante, 46% pagarão a premiação, 20% irão para o custeio e manutenção, 5% para projetos sociais do esporte, 3% para o fundo penitenciário nacional e 1% para a seguridade social.

A Timemania terá símbolos dos clubes, em vez de números. A maior parte do dinheiro será para quitar dívidas dos times com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) e Receita Federal. Os principais clubes devem cerca de R$ 900 milhões. Depois de sanear os débitos, os clubes poderão aplicar os recursos em treinamento e contratação de jogadores. O prazo para os clubes dizerem se vão aderir à Timemania é de três meses.

Mas mal a MP foi assinada e os dirigentes já falam em não pagar ou em novo prazo para quitar os débitos. Ainda confusos sobre a forma de pagamento de seus débitos com o dinheiro gerado pela nova loteria, cartolas que foram à Brasília, ontem, saíram do Palácio do Planalto com o argumento de que ainda terão dificuldades para saldar os compromissos.

Mustafá Contursi, presidente do Sindicato dos Clubes, discorda do prazo de 60 meses para o pagamento de dívidas com o dinheiro da Timemania. “O ideal seria um período maior. Se não conseguirmos cumprir o prazo, vamos sensibilizar as autoridades de que precisamos de outra solução para o problema”, declarou Contursi.

O ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, diz ser viável para a maioria dos clubes pagar seus débitos nesse período. Para ele, os dirigentes quitarão, ao mesmo tempo, as dívidas já negociadas, sem atraso. “Quem não pagá-las perde a verba da loteria.” Márcio Braga, presidente do Flamengo, não quis comentar o prazo, por não entender quais as dívidas que devem ser pagas nesses cinco anos – os dirigentes disseram não ter acesso ao texto da MP até a solenidade com Lula. “Quando a MP for para a votação no Congresso, discutiremos condições melhores”, disse Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista, que representou o Corinthians.

A polêmica da Timemania ofuscou o projeto de lei assinado pelo presidente, na mesma cerimônia, e que foi encaminhado ao Congresso, com mudanças na Lei Pelé. No projeto, os clubes formadores devem receber indenização de até duas mil vezes o salário do atleta forjado em suas divisões de base que for contratado por outro clube. Em caso de rescisão comum, a multa pode chegar a até 400 vezes do salário mensal.