Sport precisa de atleta responsáveis e técnico linha dura

Por Adelmar Bittencourt*


Os tais “supertimes” só costumam dar certo sob duas condições. A primeira é a mais simples: basta os atletas se despirem dos egos e vaidades em prol de um objetivo comum. A outra é a mais complicada, e por isso mesmo, a mais eficiente: ter no banco de reservas um técnico que segure a equipe com rédeas curtas, falando grosso quando for preciso e barrando a primeira “estrela” que estiver fazendo corpo mole.


O primeiro exemplo tem um caso emblemático – a Seleção Brasileira da Copa de 1994. Era público e notório que Bebeto e Romário não se bicavam, dividindo o grupo em duas igrejinhas. Mas os dois – assim como o resto dos atletas – sabiam da importância de vencer aquele torneio, e então foi um tal de passe perfeito para cá, “eu te amo” para lá, e o caneco acabou nas mãos do Brasil, depois de 24 anos.


Para ilustrar a segunda estirpe não é preciso ir até os Estados Unidos, a gente fica por aqui mesmo, e no nosso querido Sport Club do Recife. Para a temporada de 2000 o presidente (que por sinal é o mesmo deste malogrado início de ano) montou um time para ganhar tudo que disputasse. Não faltavam “estrelas” como Bosco, Russo, Dutra, Sandro Blum, Sidney, Leomar, Nildo, Adriano, Leonardo, Taílson, Jaques, e por aí vai. Atletas acima da média para o Pernambucano, que foi ganho com facilidade.


Jogadores que venceriam com folga até mesmo a Copa do Nordeste. Boleiros que fariam bonito no Brasileirão (quinto lugar entre os 24 times) e na Copa dos Campeões (vice-campeão). Mas isso só foi possível porque, no banco de reservas, com sua eterna cara amarrada, estava ninguém menos que Émerson Leão. Foi ele quem domou os egos do time, fazendo com que a temporada fosse um sucesso total.


Este Campeonato Pernambucano que acabou de ir para o ralo – ganho merecidamente pelo 2º Maior Time de PE – foi apenas uma demonstração de como essa teoria é, já diriam os personagens de Nelson Rodrigues, “batata”. De nada adiantou montar aquele que é o melhor plantel de um clube de futebol do Nordeste, quando a fogueira das vaidades ardeu mais alto que qualquer pretensão pelo título, e, principalmente, quando faltou no banco de reservas um treinador com pulso firme para enquadrar as “estrelas”.


Heriberto da Cunha e Adílson Batista nada mais foram do que reféns do grupo que aí está. Faltou comprometimento por parte dos atletas. Por favor não venham com a história de que os juízes nos alijaram da disputa pelo título.


Erraram – e feio – nos dois clássicos mais importantes do campeonato: a falta de Dão sobre o atacante do 2º Time foi claramente fora da área, como está brilhantemente ilustrado pela fotógrafa Alexandre Severo (sim, o pessoal do JC me garantiu que a foto é dele), do Jornal do Commércio, na edição do dia 30 de março (procurem e vejam), e o gol do artilheiro do 3º Maior Time de PE foi uma das maiores calamidades de que se tem notícia no futebol local.


Fomos prejudicados, sim, mas isso não apaga os quatro jogos que empatamos em 0 x 0 no primeiro turno, a derrota para o Porto dentro de casa, e para o Itacuruba no segundo turno. Isso é resultado de incompetência, e não de juízes mal-intencionados.


Sendo assim, só nos restam duas saídas para fazer bonito na Série B. A primeira é até certo ponto simples. “A” pode até não gostar de “B”, que por sua vez não tromba com “C”, mas é bom esse alfabeto se conscientizar de que o “fechamento” do grupo leva todo mundo para cima. A outra opção é tão plausível quanto os Estados Unidos acharem Bin Laden: trazer Leão de volta.