Na Ilha, técnicos são reféns de atletas


Nereu Pinheiro, Luís Carlos Ferreira, Heriberto da Cunha e Adílson Batista. Esses treinadores, mais do que a coincidência de terem passado pelo Sport, entre 2004 e 2005, compartilham outra peculiaridade. Curiosamente, à medida que suas cabeças rolavam, vazava na imprensa que atletas estavam descontentes com o trabalho dos técnicos. O grupo fazia corpo-mole, perdia jogos, mostrava desinteresse e, logo depois, mais um técnico estava fora da Ilha do Retiro. Com Adílson Batista não foi diferente. Ao ver o time atuar de maneira bisonha, com o Manchete, em Paulista, ele não agüentou. Ao final da partida, disse para os atletas: “Eu vou pedir demissão. Mas espero que vocês cresçam como profissionais”. Moral da história: há um ano, comissões técnicas são reféns dos grupos rubro-negros.

Um dirigente leonino, que não se identificou, confessou a um radialista não haver mais clima entre Adílson e alguns atletas do grupo. As próprias palavras do ex-zagueiro, acima citadas, dizem tudo. Por isso, mais do que um bom treinador, o novo comandante rubro-negro na Série B vai ter de pisar em ovos até conquistar a confiança do elenco, pois qualquer deslize poderá lhe custar o emprego.

As más línguas dão conta de que Adílson começou a perder a direção do grupo quando o volante Cleisson, uma semana antes do clássico contra o Santa Cruz, no segundo turno, anunciou publicamente que só jogaria na sua posição de origem – ele estava treinando como meia. Os atletas desconversam. “Quando se perde, é sempre assim”, dizem, como se houvessem ensaiado a resposta.

Ano passado, principalmente os técnicos Nereu Pinheiro e Luís Carlos Ferreira viveram momentos semelhantes. O primeiro tinha sido convocado pela direção para ficar no lugar de Hélio dos Anjos, demitido antes do término do Pernambucano. Até então, estava no cargo interinamente. Venceu o primeiro jogo da Série B, contra o Caxias (3×0), e o Sport deixou de procurar outro treinador. No combate seguinte, o time perdeu vergonhosamente por 7×1, para o Marília, em São Paulo. Nereu entregou o cargo e disse: “A direção sabe o que está acontecendo aqui”, afirmou, sem mais explicações.

Para seu lugar, foi chamado Luís Carlos Ferreira. O jeito instável do treinador, apelidado de “Louco” por muitos, também não agradou ao elenco que, oito jogos depois, fez sua segunda vítima.

Heriberto, substituto de Ferreira, até agregou o grupo ao seu modo de trabalho. Tirou o Sport da zona de rebaixamento, mas, ao ficar no grupo dos oito, inexplicavelmente, o time voltou a perder, até encerrar a competição na 17ª posição, a uma casa do rebaixamento. À época, Heriberto se revoltou com alguns jogadores, que deixaram o Sport na reta final da competição para defender clubes da Série A. Ele foi demitido no quinto jogo desta temporada.