Artigo – Cem anos de paixão

Por Alberto Calheiros*


Nasci em 1961, quando o glorioso “Leão da Ilha”, sagrou-se bicampeão pernambucano, vencendo também o campeonato de 1962. Daí em diante o Náutico, fantástico time do meu compadre Cláudio Soares, foi hexacampeão de forma incontestável, feito este que os timbus alardeiam até hoje. Em seguida, foi o Santa Cruz, de Ivanildo Sampaio, amigo-irmão de meu pai, Vladimir, que de forma soberba e com um time que jogava muito, chegou às finais do Campeonato Brasileiro, além de ter sido pentacampeão pernambucano.

De tanto ver o esquadrão tricolor jogar e ganhar, guardei até hoje na memória aquela formação: Gilberto, Gena, Rivaldo, Paulo Ricardo e Botinha, Erb, Luciano e Givanildo, Betinho, Ramón e Santana. Esse time jogava como música, enquanto eu sofria, com Meinha e Odilon.

Sofri uma barbaridade, àquela época, com 14 anos de idade, nunca tinha visto o meu Sport sagrar-se campeão. Meus pais, por circunstâncias outras, mudaram-se para Maceió. Em 1975, estava eu lá nas arquibancadas dos Aflitos, para presenciar a “Nação Rubro-Negra” tornar-se campeã de forma incontestável. Explosão de alegria, lágrimas de contentamento e muitos rubro-negros de joelhos, pagando promessas.

O escritor tcheco Milan Kundera, no seu “A insustentável leveza do ser”, afirma que “a nossa terra é aquela em que lançamos o primeiro olhar sobre nós mesmos”. Partindo desta premissa, a minha terra é a Ilha do Retiro. Ali, bem pequeno, agasalhado com o manto sagrado rubro-negro, junto aos meus pais e irmãos, (estes últimos sucumbiram, imprudente e intempestivamente, às cores do esquadrão tricolor), vivi momentos mágicos. O amendoim, as palavras de ordem da torcida do Sport, os palavrões, tudo aquilo me encantava. E fui ao Arruda, aos Aflitos e à Terra Santa da Praça da Bandeira incontáveis vezes, sempre puxado pela mão do meu velho e querido pai.

Nos anos 90 foi só festa, a massa rubro-negra agigantou-se e hoje, segundo pesquisa do Ibope, só é menor no Nordeste que a torcida do Bahia. Todo ano faço a minha peregrinação à Ilha do Retiro. Lá me sinto em casa. Abraço, neste centenário, todos os rubro-negros, certo de que no próximo século de existência, mais uma vez, o Sport será o maior campeão de Pernambuco.

Não se aprende a ser Sport, se nasce rubro-negro. Estive até lendo em uma revista especializada que quando da codificação do genoma, tem lá um caractere que determina que o sujeito deve nascer Sport. Minhas filhas, Cristiana e Luiza, nasceram com este privilégio. Hoje, no ano do centenário, o clube da Praça da Bandeira, está acima do bem e do mal. Pelo Sport, tudo, e mais algumas vidas.