ESPECIAL – Memórias de um Louco III

Festa na Ilha…


No início da década de 80, só deu Sport! E, com isso, a procura pela Sportmania só aumentava. A conquista do tricampeonato em 82 fez o número de adeptos da torcida crescer consideravelmente. “Passamos de pouco mais de 15 malucos para mais de 60 no começo de 1983, quem entrava trazia uma bandeira e a torcida a cada jogo ficava mais bonita e barulhenta”, comentou o então presidente da Sportmania, Moca.


Animados e com vontade de fazer festa, Moca e os amigos tentaram montar uma “batucada”. Até aí tudo bem, certo? Não, errado! O problema é que ninguém sabia tocar nada. “Mas como Deus é Brasileiro – e deve ser também torcedor do Sport – caiu do céu um grupo de batuqueiros rubro-negros da Ilha do Retiro (como gosta de frisar a minha esposa) para tocar de graça nos jogos.” A alegria era muita, porém, de 83 a 86, o Leão estava mal. “Montávamos bons times, chegávamos a final e nada de ganhar o Estadual, de quebra a Ilha estava fechada”, relembrou Moca.


A reinauguração do campo da Ilha aconteceu em 85 e Moca foi incumbido de uma missão que prova a existência de mais loucos do que ele! “Fazíamos parte dos preparativos e, o então diretor do Sport e hoje deputado Federal José Chaves, chamou-me para eu realizar uma tarefa. Fui encarregado de ir à Olinda para trazer um leãozinho que iria entrar em campo no dia da reabertura. Lá fui eu e Beiçola (motorista da Kombi do Sport) na dita casa para pegar o leãozinho.”


Ao chegarem, Moca e Beiçola foram apresentados ao leãozinho. Ele não media nada mais do que dois metros! “Paramos de respirar, ‘tome suor’. O dono do animal morrendo de rir e a gente de medo. Quando o ‘bichinho’ se afastou não olhamos nem para trás! Acho que nunca corri tanto na minha vida”, falou Moca, que chegou ao Sport sem o bicho. Mesmo assim, o Leão participou da reabertura, só que dentro de uma jaula.


No campeonato brasileiro de 1985, o Sport ia bem. Chegou as oitavas e, depois de golear o Corinthians/SP na Ilha (placar de 3 a 1), iria pegar o Coritiba/PR no último jogo. Para o Clube da Praça da Bandeira, só interessava a vitória.  É claro que Moca não ia deixar de acompanhar o time do coração. “Não tive nem o que pensar! Peguei a mochila, coloquei a bandeira nas costas e fui para Curitiba.” Foram mais de 44 horas de viagem, num ônibus.


Mostrando uma mente bastante estratégica, Moca fui diretamente à sede do Atlético/PR e convenceu alguns torcedores do time a também ir ao jogo, “secar” o arqui-rival. Depois da missão cumprida, ele foi assistir ao treino do Sport. Lá, ele falou como o médico do clube pernambucano, o doutor Romualdo Veras, para perguntar se o centroavante Luis Carlos iria jogar. Luís estava contundido e era uma dúvida na escalação. Então, para espanto de Moca, Romualdo perguntou quem ele era e o que estava fazendo ali. “Falei que era Moca, o presidente da Sportmania, e ele me chamou de louco . Eu quase não entendi a pergunta e respondi: ‘ora, vim ver o Sport jogar. Lembro-me da cara dele até hoje.”


O Leão pressionou o Coritiba/PR, mas não conseguiu a vitória, e a equipe paranaense tornou-se Campeã Brasileira. “Vi a torcida do Coritiba, que havia entrado em campo pensando em goleada, gritar desesperadamente aos 40 minutos pedindo o fim do jogo”, disse.


No ano seguinte, veio a vingança. O Sport tinha um time bom e venceu o Santa Cruz por 5 a 0, num domingo de casa cheia. “Nunca vi tanto marmanjo chorando junto de uma vez só (eu no meio claro). Era uma verdadeira loucura, foi neguinho arrancando pedaço de grama, outros pedaços das redes. A nossa faixa de dez metros desapareceu completamente em pequenos pedaços que foram arrancados como souvenires.  Depois do jogo, não sabíamos se ríamos ou se chorávamos!”


O próximo encontro com Moca será no dia 1º de abril (não se aperreiem, não é mentira, hein?) Até lá!