O comandante do Centenário

Parte da torcida rubro-negra esperava um treinador de maior nome no cenário nacional. Mas a direção leonina optou por um técnico da nova safra. Seu nome: Adilson Dias Batista, ou simplesmente, Adilson Batista, 36 anos. Natural de Curitiba, ele foi criado no interior paranaense, mais precisamente, em Adrianópolis, a 123 quilômetros da capital. Ele – que foi zagueiro, é casado e tem duas filhas – foi a escolha do Leão para tentar dar uma guinada total numa equipe que recebeu as contratações de maior impacto dos últimos anos, porém ainda não conseguiu transformá-las em resultados dentro de campo, no ano do Centenário. Apesar dele próprio se considerar apenas um iniciante, já tem algumas façanhas no currículo. Por exemplo, livrou o Grêmio da Série B, em 2003 (o tricolor gaúcho acabou caindo em 2004), e repetiu o feito com o Paysandu, no ano passado. Conheça melhor o novo comandante técnico do Sport nesta entrevista exclusiva concedida à Folha de Pernambuco.
        
Folha de Pernambuco – Você poderia fazer um resumo da sua carreira, como jogador, e como treinador?
Adílson Batista –
Como jogador, comecei no Atlético Paranaense, em julho de 1986, nos juniores, depois eu subi para o time profissional e permaneci até 1988. Fui vendido para o Cruzeiro, em 1989, e fiquei até setembro de 1993. Em 1994, eu trabalhei no Atlético Mineiro. Em 1995, eu fui para o Grêmio, onde fiquei até 1996 e, no ano seguinte, fui para o Jubilo Iwata, do Japão, onde fiquei até 1999. Em 2000 joguei no Corinthians, encerrando a carreira em 2001. Como treinador, eu comecei em julho de 2001 no Mogi Mirim/SP, onde permaneci por oito meses. Aí, em 2002, eu fui para o América/RN, no qual fiquei dois meses e consegui um título estadual. Ainda em 2002, trabalhei na Série B pelo Avaí. No início de 2003, mais precisamente até março, permaneci em Florianópolis, no Avaí. Em seguida, fui para o Paraná Clube, por dois meses. No Grêmio, trabalhei por 10 meses, entre 2003 e 2004. Ainda em 2004, no segundo semestre, treinei o Paysandu. Após isso, vim para cá.
        
FP – E em termos de títulos?
AB –
Foram dezesseis títulos como jogador e mais nove torneios, fruto de 32 finais como atleta. Tenho os títulos de campeão paranaense, bicampeão gaúcho, campeão mineiro, campeão da Supercopa duas vezes, campeão da Recopa com o Cruzeiro, campeão da Libertadores (Grêmio), da Copa do Brasil (Cruzeiro), em 1993. Neste eu estava machucado, mas fazia parte do grupo. Fui ainda campeão mundial pelo Corinthians. No Japão, pelo Jubilo Iwata também conquistei duas J-League, que equivale ao nosso Brasileiro, uma Nabisco, que é similar à Copa do Brasil, uma Copa da Ásia, uma Supercopa da Ásia. Já como treinador, consegui o acesso do Mogi Mirim, da Série C para a Série B, entre 65 equipes. Depois, fomos campeões potiguares pelo América/RN, após sete anos sem de jejum, depois fiz um trabalho muito bom no Avaí, onde, juntamente com o Sport, no Brasileiro da Série B, até a 21ª rodada, nós estávamos entre os três primeiros e terminamos no quinto lugar, ao perdermos do Santa Cruz. Em 2003, fiz oito jogos com o Paraná Clube na Série A e permaneci em oitavo lugar, mas acabei saindo. Depois fui para o Grêmio, que peguei em 24° e deixei em 20° lugar. Na seqüência, assumi o Paysandu em 22° lugar e deixei no 16°. Agora, peguei o Sport em sétimo e já estamos em primeiro no returno.
        
FP – Então você também é um especialista em livrar clubes do rebaixamento?
AB –
Não que eu seja um especialista nisto. Foram somente oportunidades. Eu estou apenas começando uma carreira. Se você for contar, eu tenho só 37 meses como treinador. É um tempo curto. Mas a escola na qual eu estudei foi boa, pois eu trabalhei com grandes profissionais, como o Ênio Andrade, Felipão, Carlos Alberto Silva, Carpegiani, Falcão, Vadão, Nelsinho Baptista e Levir Culpi, entre outros. Tenho uma turma muito boa que me ajudou e sou grato por isso. Agora é uma nova fase. Sei da grandeza do clube, da importância do ano, da necessidade de subir. Com trabalho atingiremos os objetivos.
        
FP – O fato de você ter sido zagueiro significa que dedica especial atenção à parte defensiva de suas equipes, ou você prefere armá-las ofensivamente?
AB –
 Isso varia muito. É relativo. Independente da minha função como jogador, cada um tem uma maneira diferente de pensar. Não pode é fugir do equilíbrio necessário a uma equipe para ela ser vencedora. Então, onde trabalhei sempre procurei colocar aquilo que julgava importante, de acordo com o que tinha em mãos.
        
FP – Você pode relembrar o time do Grêmio, campeão da Libertadores da América, no qual você atuou?
AB –
Foi um bom time, bem dirigido pelo Felipe (Luís Felipe Scolari) e pelo Paixão (o preparador físico, Paulo Paixão), e uma direção enérgica, que nos dava total apoio, comandada pelo Fábio Koff. No mais, era um time competitivo, de qualidade, com jogadores um pouco desacreditados. Por exemplo, eu tinha o passe, o Arce ninguém conhecia, o Rivarola também, o Goiano (Luís Carlos Goiano) estava vindo de São Paulo, o Dinho já tinha uma certa experiência, o Paulo Nunes foi moeda de troca, o Jardel também veio de contrapeso. Foi formado um grupo forte e que demonstrou dentro de campo que tinha a sua qualidade. Sabíamos jogar, marcávamos forte, não deixávamos o adversário atuar. O que marcou muito foi o nosso duelo com o Palmeiras, que tinha um time muito bom, treinado pelo Vanderley Luxemburgo, que foi campeão invicto em São Paulo, com mais de 100 gols no Paulistão. Na maioria das vezes em que nos encontrávamos, fosse na Copa do Brasil, Brasileiro ou na própria Libertadores, ganhávamos. Isso teve uma repercussão. Guardo boas recordações daquela equipe.
        
FP – Mas foi o melhor time em que você jogou, não?
AB –
Também trabalhei no Cruzeiro e naquela época fui convocado para a Seleção Brasileira. Nós formamos um grande time e chegamos em terceiro no Brasileiro por causa de um detalhe, que foi um empate com a Inter de Limeira. Deixamos de fazer a final contra o Vasco, que estava liderando o outro lado. Então, o Cruzeiro foi uma escola em que senti prazer de jogar, porque era um time de toque de bola. Dava gosto jogar lá.
        
FP – No Grêmio você foi atleta do Felipão. Qual foi, na sua opinião, o maior ensinamento dele, aquilo a que você recorre até hoje, como treinador?  
AB –
A lealdade com que ele age com o grupo, a dedicação ao trabalho, a persistência e a repetição daquilo em que ele acredita. Eu tive mais seis meses de trabalho no Jubilo Iwata (Japão) com ele. Então o conheci ainda melhor e, onde estiver, torcerei sempre por ele.
        
FP – Você tem pouca idade e poderia ter atuado mais como jogador. O que te motivou a encerrar a carreira de atleta e iniciar a de treinador?
AB –
 Eu joguei no Corinthians em 2000 e achei que seria a hora de parar. Estava tendo algumas dificuldades com o meu joelho e creio que fiz a opção certa. Se você permanece jogando sem as condições ideais e sem produzir aquilo que considera importante, até pela sua experiência, a cobrança é maior e você não tem condições de render o esperado. Decidi tirar seis meses de férias e recomecei a trabalhar. Foi o suficiente para dar seqüência à carreira, desta vez, como técnico.
        
FP – Mas qual foi exatamente a gravidade da sua lesão?
AB –
Operei o ligamento cruzado posterior. A cirurgia ocorreu no Japão e foi conseqüência de uma entrada maldosa de um jogador nigeriano. De dez lesões, nove são do cruzado anterior, só uma, do posterior. É justamente a mais difícil, complicada. Depois disso não senti tanta firmeza. O joelho me incomodava, inchava com freqüência. Lembro-me que em 2001 poderia ter sido campeão brasileiro de novo, pelo Atlético Paranaense. Eu treinava lá e o Carpegiani (Paulo César Carpegiani) era o técnico. Cheguei a fazer a pré-temporada. Como fui cria do clube, tinha ido lá com o propósito de recuperar o meu joelho. Estava correndo numa praia do litoral de Santa Catarina e meu joelho inchou. Voltei a Curitiba e fui ao Departamento Médico para me tratar. Foi quando ele (Carpegiani) pediu à diretoria a minha contratação. Mas conversei com ele e achei que não teria mais condições de suportar os jogos. Decidi parar. Foi uma decisão não muito boa. (risos) Dá saudade. Hoje tenho consciência de que meu lugar é aqui. É uma profissão desgastante, mas me dedico, quero vencer, tenho objetivos na vida e vou alcançá-los.
        
FP – E você acabou ficando no mesmo ambiente, que é o do futebol, não foi?
AB –
 Não dá para fugir disso. É o que gosto e faço com prazer.
        
FP – É o ano do Centenário do clube. O Sport fez um investimento alto, mas o time ainda não rendeu o esperado. Como você pretende solucionar este problema?
AB –
 Com trabalho. Estou aqui há pouco tempo. Temos de detectar rapidamente o que achamos importante alterar e, se possível, melhorar. Eu sei da importância e da grandeza da torcida rubro-negra e do ano em que estamos. Temos necessidade de vencer as duas competições. O principal é subir à Primeira Divisão, recolocando um representante de Pernambuco lá. É com este intuito que estou aqui.
        
FP – A equipe vem oscilando muito entre os jogos. É comum se dizer que esta é uma característica de times em formação. Você concorda com esta análise?
AB –
Numa equipe montada há pouco tempo é normal. Posso falar dos meus quatro jogos. Observei o time jogando muito bem, exceto no segundo tempo contra o Manchete, aqui na Ilha do Retiro. Então vejo evolução. Acho que estamos crescendo.
        
FP – Em que estágio está a equipe dentro do que foi planejado?
AB –
A tendência é evoluir. As dificuldades irão aumentar, mas ainda assim, podemos melhorar.
        
FP – Há outro treinador da escola sulista (Mauro Galvão) chegando num clube do Estado. Como você vê isso?
AB –
 Vejo que o Estado está abrindo portas para outros profissionais. Encaro como um enriquecimento. O próprio Givanildo Oliveira, se você analisar, já dirigiu times de São Paulo, que é um mercado que também abre as portas. Então é uma troca de experiências. Eu trabalhei com o Mauro Galvão no Grêmio, em 1996, ainda como jogador, quando nós fomos campeões brasileiros. Ele jogou a última partida porque eu estava suspenso. Foi uma convivência pequena, mas de lealdade e respeito. Estou certo do seu sucesso porque ele conviveu com ótimos treinadores e foi um grande jogador. Tem tudo para dar certo.
        
FP – O que você promete para a torcida rubro-negra, que agora já te conhece melhor?
AB –
 Eu prometo dedicação, fazer com que o time tenha coragem, vibração, se imponha, respeite a camisa do Sport. O fundamental é o respeito com o torcedor e com a instituição. A partir do momento em que o atleta assina um contrato com um clube do porte do Sport tem que compreender isso. É o que procuro passar para o elenco.