Luciano Bivar publica nota oficial

A Hora da Verdade

“Há muito esbraveja em minha aldeia sobre os riscos catastróficos que a famigerada Lei Pelé viria causar ao esporte mais popular do país. Uma das razões que me levaram ao Congresso Nacional era protestar contra o assunto. Todavia, a mídia populista e demagógica foi maior do que os que vociferavam no combate àquela norma, sobre o apocalipse que ela provocaria. Os trâmites legislativos avançaram como um furacão guiados por uma mídia insana e inconseqüente e marcaram a data da morte do futebol brasileiro: 26 de março de 2001, data da Vocatio Legis do art. 28 §2º, da Lei nº 9.615/98.” (Luciano Bivar, Jornal do Commercio, ed. 27/09/2000).

Fui incompreendido, tachado como cartola da “BANCADA DA BOLA”, imperativo, perdulário, oportunista político, egoísta e, por fim, execrado como se me faltasse competência, zelo e amor pelo SPORT. E isto tudo só me rendeu um tremendo prejuízo pessoal. Fui traído, achacado, acionado pelo fisco em débitos que jamais constitui e incompreendido por milhares de rubro-negros que mal sabiam que o SPORT, nos últimos dois últimos anos da minha presidência, em que os mantive na hegemonia do futebol nordestino, deveu-se unicamente a um esforço estritamente pessoal dentro da órbita financeira, pois, nestes anos, já vivíamos a era “LEI PELÉ”.

Não há mágica nem milagre para nenhum humano administrar o SPORT, nos padrões que o fizemos no passado. A realidade salta aos olhos. Querer que o futebol brasileiro seja administrado ao estilo europeu é de um ilusionismo inimaginável. Lá é um show, um espetáculo, como um teatro, cujos fatores sócio-econômicos e culturais estão há 100 a nossa frente. O que nós temos e eles não tem é a produção de talentos, a fábrica de jogadores, os abnegados dos campos de várzea que investiam em jovens valores. Com a “LEI PELÉ”, tudo isto acabou. O Flamengo tinha meio milhão de atletas espalhados pelo Brasil. O SPORT, 200. O São Paulo em torno de 400, e por aí vai. Hoje, se cada clube desses tiver 11, já é uma grande coisa.

Tomei conhecimento de que do elenco do Náutico que terminou o certame, somente um atleta ainda tinha seus direitos federativos pertencentes ao Náutico por mais dois anos.

Esta seleção brasileira que talvez nos dê o hexacampeonato mundial ainda é fruto da estrutura “pré-LEI PELÉ”.

Depois dela, nos tornamos “japoneses” diante do futebol mundial. Hoje, já com a geração “pós-LEI PELÉ”, nem para as Olimpíadas fomos classificados.

Portanto, amigos rubro-negros, não há mágica. Ao homem de bom senso hoje é difícil acreditar que possa atender as aspirações da torcida do SPORT.

Cuidado com os aventureiros, dizer que os clubes como SPORT, com sede no Nordeste, são uma “mina de ouro”, desde que bem explorados, é uma falácia que só inocula na cabeça de aproveitadores, oportunistas e quando muito angélicos sonhadores.

É preciso que se mude a estrutura agora e já. E aí, podem contar comigo.

Que a luz divina nos ilumine para sobreviver o nosso futebol, que só os políticos de Brasília não entendem que poucas empresas no mundo atingiram seus 100 anos de vida, furto exclusivo da abnegação, amor e amadorismo no bom sentido de várias gerações que lá passaram. Querer formalizá-las como empresas mercantilistas é como tirar-lhes a seiva original que criou o sangue brasileiro de samba, carnaval e futebol. Isto acontecendo ao futebol nacional é mesmo que construir uma linda lareira mas não possui calor, um fogo que não queima e uma tocha que não ilumina.

Recife, 4 de novembro de 2004.

Luciano Bivar
Ex-Presidente do Sport