Leozinho e os vampiros

Por Adelmar Bittencourt*

Depois ainda tem gente se lamentando porque o Sport fez um papelão desses na Série B de 2004. Para mim foi justo e merecido, resultado de uma quase interminável sucessão de trapalhadas da diretoria. Sim, você sabe quais são. Demora em “esperar” jogadores que, sabidamente, não retornariam para o clube (Weldon, Adriano Chuva); demora em contratar no início do campeonato; o desastre do Marília, premeditado pelos atletas para derrubar Nereu Pinheiro; a contratação de Luís Carlos Ferreira e seus “bondes”; e tantas outras.

Deixem-me apenas tipificar essa loucura toda que foi o Sport em 2004 com um caso emblemático. Leozinho, ou Léo Pernambucano, como ele gosta de ser chamado, é um jogador diferenciado. Jovem, impetuoso, com habilidade e uma canhota infernal, ele é a maior promessa surgida na Ilha desde Cléber. Com apenas 17 anos, entrou em jogos decisivos do Pernambucano, marcou gols, fez belas partidas e… Inexplicavelmente, foi sacado do time.

Isso mesmo, caro leitor. A diretoria do Sport foi conivente com o disparate de deixar Marquinhos Bolacha vestir o manto rubro-negro e de tirar Leozinho até do banco de reservas. E você também ouviu várias vezes a ladainha de Heriberto: “Precisamos de um meia-esquerda criativo”. Caraca, esses sujeitos são cegos ou eu sou louco? Leozinho ali, encostado, e Bolacha maltratando a bola. Leozinho no banco e Jean Carlos chupando todo o estoque de sangue do Hemope. Leozinho brilhando na Seleção Brasileira sub-20 e Nildo sem qualquer motivação para jogar no Sport.

Eu não sou maluco de achar que o garoto, sozinho, teria salvado o Sport do vexame de 2004. Mas o caso dele é um exemplo da absurda falta de rumo do clube nos dias de hoje. Ouvi nas rádios alguns dirigentes dizerem que Leozinho era novo para ser jogado nessas fogueiras, que era preciso ser trabalhado melhor e tal. Isso é para rir? Em 1994, o Sport brilhou na Série A (quer “fogueira” maior?) com um time praticamente formado por garotos de 18, 19 anos. Adriano, Sandro, Leonardo, Chiquinho e Juninho tinham justamente essa idade quando encantaram o Brasil com aquele grande time. E hoje eles me vêm com essa história de “preservar o atleta”? Como é que ele vai ganhar cancha se não jogar? Pelo amor de Deus, caros cartolas rubro-negros, essa desculpa não cola.

A atual geração de valores não é tão fértil quanto aquela de 10 anos atrás, mas tem bons atletas que, se trabalhados corretamente, recebendo do clube o apoio e atenção necessários, vão ser bastante úteis. Leozinho é um projeto (bem adiantado) de craque. Everton, se não é um primor em técnica, é um excelente marcador e tem um fôlego impressionante. Clécio é um zagueiro técnico, mas precisa ganhar confiança, que parece ter sumido depois da fatídica contusão provocada pelo marginal que atende pelo nome de Vinícius. Ademar, por sua vez, precisa de uma seqüência de jogos.

O segredo para dias melhores em 2005 está aí. É motivar os garotos, dando-lhes responsabilidade na medida certa, e contratar alguns jogadores mais experientes para fazer o papel de fiel da balança. Essa receita sempre funciona. Mas se os sapientes cartolas preferirem “preservar” nossos atletas… Bom, quem sabe Leozinho não se enfeza, pega a viola e vai tocar em outra freguesia, onde lhe dêem mais valor?