‘Na fase ruim, surge todo tipo de conversa’

Nildo conversou, num clima bastante amistoso, com a reportagem do JC, na última quinta-feira, antes de iniciar mais uma série de treinamentos na Ilha do Retiro. Entre uma resposta mais amena e outra em tom de desabafo, o jogador colocou seu ponto de vista sobre o atual momento do Sport e da sua própria fase. Também opinou sobre a suposta ‘panela’ que dizem existir na Ilha, da qual é acusado de ser líder. “Quando se perde, é sempre assim”, comenta. “Nada melhor do que uma seqüência de vitórias para acabar com isso.”

JORNAL DO COMMERCIO – Os torcedores pegaram pesado, na manifestação de segunda-feira. Como suportar as agressões verbais e se manter tranqüilo?

NILDO – Olha, o que me deixa triste são as inverdades. Disseram que faço ‘panela’, que não toco a bola para Robson, que sou mercenário e um monte de bobagens. Ao mesmo tempo, sei que a pressão sempre foi grande aqui no Sport, e ela só acaba com resultado. Nada melhor do que uma seqüência de vitórias.

JC – Você disse, certa vez, que quando o Sport vence, todos ganham os louros, quando o Sport perde, só você é o culpado. Isso lhe chateia?

NILDO – Chateia. Eu queria que quando a gente vencesse, colocassem as faixas no estádio, chegassem torcedores no vestiário, aplaudindo, incentivando, e dizendo “ah! Nildo foi o melhor”, ou mesmo, “venceu por causa de Nildo”, e nem sempre isso acontece. Só acontece na hora da pressão, da cobrança. Mas sei lidar com a situação. Já tenho experiência para suportar tudo isso. É você continuar trabalhando porque uma hora o resultado vem. E, com o resultado positivo, chega a tranqüilidade. Os que vaiavam, se calam, e os que sempre apoiaram, apóiam mais ainda.

JC – O que fazer para deixar de levar em consideração as críticas, até para que isso não afete seu rendimento?

NILDO – Momentaneamente, fico triste. Lamento tudo o que está acontecendo. Justamente porque sei que se trata de uma coisa direcionada, que muitas vezes acontece por causa da emoção. Assim, apego-me ao trabalho. Sei que Deus sempre traz a justiça para aquele que trabalha. O trabalho dignifica qualquer pessoa. E o trabalho sendo feito, a consciência estando tranqüila, durmo, acordo e trabalho tranqüilo, e o resultado de tudo isso, espero, será a vitória.

JC – Sobre a questão da ‘panela’ que dizem existir no Sport. De onde você acha que surgiu isso? É um boato que deixa o ambiente do Sport ainda mais intranqüilo?

NILDO – Tem de perguntar aos torcedores. Acredito que eles vão muito de acordo com o que lêem, o que ouvem e o que vêem. Muitas vezes, ele acompanha o dia-a-dia, aqui, e não sabe o que está se passando. Muitas vezes há inverdades. Tiro como exemplo em jogos na Ilha, que o cara está com um radinho no ouvido, e critica tal jogador. Só que o jogador já saiu. Quer dizer, ele está com um radinho no ouvido, e está indo não pelo que está vendo, mas no que está ouvindo. Cheguei a ver um torcedor falar para o nosso treinador: “Tira Bebeto Campos”. E Bebeto Campos estava sentado ao meu lado no banco de reservas. É uma prova que muitas vezes o torcedor vai pelo que escuta. Muitos são envolvidos, apesar de saberem que no dia-a-dia é diferente.

JC – Os formadores de opinião e a crônica esportiva têm culpa nessa confusão toda, já que você mesmo afirmou que o torcedor é facilmente manipulado?

NILDO – Com certeza. Vou dar um exemplo: um cara nunca veio aqui no Sport faz o comentário dele na rádio. Mas ele nunca veio aqui. “ah!, mas fulano falou”. Mas ele não viu! Veja, é diferente. Você (o repórter do JC) está aqui diariamente, sabe o que está se passando. Vê o trabalho. É lógico que você tem a sua opinião, ninguém vai mudar isso. Mas está vendo, está acompanhando. É diferente. Aí chega um cara, que nunca pôs os pés aqui, opina, fala que tem ‘panela’, fala isso e fala aquilo. Repassa o que escutou de um amigo, de outro jornalista. Acho que a imprensa tem de dar a notícia certa. Porque se ela dá uma notícia só com a preocupação de vender, não é notícia. Quando a fase está ruim, surge todo tipo de conversa. Quando a fase está boa, não aparece nada.

JC – Qual o bom e ruim de estar há seis anos num clube?

NILDO – O bom é que você se identifica com ele. Tem a possibilidade de ganhar títulos, de dar títulos à torcida, vencer. O chato é quando acontece algo de ruim e o culpado é aquele que está há mais tempo no clube. Quero dizer ao torcedor, é uma oportunidade que tenho, que estou aqui, não é porque fui forçado a estar. Em dezembro, recebi proposta de clubes da Série A. Desde o início do ano recebo propostas, tanto de clubes de Primeira Divisão quanto de fora do País. Estou aqui no Sport não é porque foi a única opção que tive, e sim porque gosto. Gosto dessa pressão, gosto de lutar pelos meus ideais e estou recebendo bem para isso. É bom que se esclareça esse fato. Tenho um objetivo: é sair daqui, um dia, com o Sport na Primeira Divisão.

JC – Você ainda está motivado, depois de tudo o que aconteceu?

NILDO – No dia que acabar a minha motivação aqui, chego para o presidente (Severino Otávio, Branquinho), com quem tenho um relacionamento muito bom, e digo: “Presidente, não tenho mais motivação de jogar no Sport”. Não adianta, não. O dinheiro que ganho aqui, ganho em outro clube, tranqüilamente. Não tem essa de estar aqui porque estou ganhando dinheiro. Estou aqui porque gosto e estou motivado para vencer e ‘chegar’. Não é qualquer jogador que fica aqui no Sport como estou, hoje, suportando tudo isso e dentro de um profissionalismo. Estou agüentando tudo isso, tendo proposta de fora e sem querer sair.

JC – Na parte tática, você acha que falta ao seu lado, outro meia. Até para dividir um pouco mais a responsabilidade?

NILDO – Não é só um meia, mas um conjunto todo. Passamos por uma reformulação, por dificuldades, trocamos treinadores e chegaram jogadores de posições diferentes. Não vejo pelo lado de que tem de ter mais um meia para chamar essa responsabilidade. A responsabilidade tem de ser de todos. De Maizena, lá no gol, até o 11. Todos têm de ter essa participação. Nós pecamos mais por isso. Muita mexida, este ano, muita troca, e sempre há uma dificuldade para o entrosamento chegar e dar uma seqüência boa.

JC – O Sport tem condições de dar a volta por cima?

NILDO – Vejo da seguinte maneira: temos de ir por etapas. Primeiro temos de sair da zona de rebaixamento. As vezes, escutamos o torcedor dizer que o jogadores não estão nem aí para esta situação. Quero dizer que do mesmo jeito que estão sofrendo, estão tristes por essa posição, os atletas também estão. Num momento como esse, você não vai jantar fora, não vai ao cinema, ao shopping, não leva o filho na escola, porque vai escutar gracinhas. Depois de tirar o Sport dessa situação, é pensar em se classificar. Acredito muito ainda na classificação do Sport.

JC – É questão de realmente transformar o Sport numa família para superar a crise?

NILDO – Deixa eu ser bem sincero. Dentro do futebol não existe família. “Ah!, a Família Felipão”. Não existe. Existe um grupo com um ideal, com o objetivo de vencer, que passa por cima de tudo e de todos. Relacionamento: existe amizade. Me identifico com um, outro se identifica com outro. Entendeu? Tem jogador que não saio junto, porque ele gosta de ir para um lugar e eu para outro. Sou obrigado a me relacionar com ele? Não, de maneira nenhuma. Acredito mais num grupo que tenha ideal, em que as peças se encaixem, e cada um busque essa união que todo mundo fala, mas dentro do campo, buscando o objetivo do gol, da vitória. O futebol é uma disputa. Todos querem jogar, quem está fora está com raiva porque quer jogar. Há um respeito, é claro. Mas acredito que o grupo tem qualidade. Passou essas dificuldades de formação e de treinador. Não vamos ser rebaixados e vamos sair dessa situação.

JC – Você acha que, pelo menos, o time está mais coeso?

NILDO – Vejo no semblante de cada um, que todo o mundo quer tirar o Sport dessa situação. E temos de nos juntar em prol desse ideal. O que acho engraçado no futebol é que as perguntas são feitas na hora da derrota, na hora em que está tudo errado. Ano passado estava tudo bem, ninguém escutou falar sobre isso (a desunião entre atletas). Um exemplo foi quando da entrada do técnico Nereu Pinheiro (que chegou no final do Campeonato Pernambucano e saiu na segunda rodada da Série B). Ele chegou, ganhou dois jogos e empatou outro no Estadual. Depois venceu o primeiro no Brasileiro. Aí a gente ouviu que Nereu tinha unido o grupo. Por quê? Porque houve vitória. Até nisso, a união do grupo depende do resultado.

JC – Apesar de cedo, dá para pensar em permanecer no Sport?

NILDO – Só o tempo vai dizer. Sempre coloquei a minha vida à disposição de Deus, para que Ele determine o que quer. Sempre tomei decisões baseadas nessa fé. Sei também que futebol é resultado. Muitas vezes quando o resultado não vem, você não consegue ficar no clube. Mas vou continuar trabalhando e, se houver o interesse do Sport, e seja uma proposta boa, tanto para mim quanto para o clube, renovo o contrato.