Entrevista – Marco Antônio

No início do ano, o atacante Marco Antônio assinou contrato até o final da temporada com o Santa Cruz. Porém, nesse mesmo contrato existia uma brecha para que o atleta deixasse o Arruda na hora que aparecesse uma proposta de um clube do exterior. Durante o Segundo Turno do Campeonato Pernambucano, surgiu uma oferta de uma equipe da Coréia do Sul. Como o Tricolor nada poderia fazer para segurar o jogador, teve que o liberar faltando apenas três rodadas para o término do campetição.

Marco se transferiu para a Ásia, mas não se firmou e quis retornar. Quando estava tudo certo para a sua volta à Cobra Coral, apareceu uma proposta financeiramente melhor do Sport, que também aceitou comprar direitos federativos dele. O jogador, que se reconhece como “mercadoria”, acabou sendo negociado com os rubro-negros e se apresentou na Ilha do Retiro na última quarta-feira. Ainda que o rosto dele denunciasse o contrário, Marco Antônio garantiu que está feliz em vestir a camisa leonina.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, falou que as pessoas só entenderiam a satisfação dele com o tempo. “Quando entro em campo, procuro mostrar o meu futebol. Suo mesmo e, se tiver que dividir de cabeça, divido”, afirmou. O novo atacante do Leão ainda contou como foi a passagem dele pela Coréia e informou que se considera campeão pernambucano de 2005.

Folha de Pernambuco – Como foi a sua passagem pelo futebol coreano?
Marco Antônio – Foi um pouco frustrante. Tinha o sonho de jogar fora do Brasil e o consegui realizar. Joguei num país muito bonito. Não tive problema de adaptação e de moradia. Encontrei bons campos. Não é à toa que a Coréia recebeu uma Copa do Mundo. Mas o que me deixou entristecido foi a forma de trabalho. É sempre a mesma coisa. O tempo de treinamento é curto. Não existe uma pessoa especializada para acompanhar o jogador, como um preparador físico, uma nutricionista e um fisioterapeuta. Isso mexeu comigo. A incoerência de jogar e depois não jogar por opção de colocar um atacante mais alto em função da outra equipe também mexeu. Para mim, isso é antiprofissional. No Brasil, o cara pode ser baixinho, mas, caso se encaixe no grupo, joga todas as partidas. Esses fatores fizeram com que eu revisse os meus conceitos dentro da equipe.

FP – As contusões também contribuíram para você não ganhar ritmo?
MA –
 Evidentemente que as minhas duas contusões me atrapalharam demais, o que me fez voltar para a segunda equipe, a de aspirantes. Não vou negar, não vou esconder isso. Na primeira vez, voltei numa boa para me condicionar. Porém, na segunda, já estava treinando normal e jogando pela primeira equipe quando me pediram para retornar aos aspirantes. Foi aí que entrei em contato com o meu empresário. Ele falou com o pessoal do clube coreano, que disse não haver problema se eu tivesse outro time para jogar.

FP – Você falou, logo quando voltou ao Brasil, que não teve oportunidade de se adaptar ao futebol local. Houve discriminação?
MA –
Não acredito nisso. Na minha equipe existiam outros três brasileiros. Acho é que não me deixaram mostrar o meu futebol. O Botti, que jogava no Vasco da Gama e está na Coréia há cinco anos, veio falar comigo que eu estava sendo injustiçado dentro do grupo. Então, por que vou ficar num lugar longe de casa quando posso mostrar o meu futebol aqui, em Portugal ou no Vasco da Gama?

FP – A sua família viajou com você. O que a sua esposa achou dessa pequena permanência fora do Brasil?
MA – Quando ela chegou na Coréia, ficou encantada, gostou muito, mas aconteceu a minha volta ao time de baixo para me condicionar fisicamente. Ainda agüentei duas semanas. Com mais uma semana que ela ficou e uma da parte burocrática, fez um mês que ela estava na Coréia junto com os meus filhos e a minha sogra, que viajou para ajudá-la. Quando ela percebeu que eu estava voltando para o Brasil, me pediu para agüentar mais um pouco e ficou muito chateada porque passou doze horas na Alemanha antes de ir para lá à espera de um vôo. Além disso, as minhas crianças já estavam se adaptando. Isso é o que me deixou mais chateado. As pessoas pensam que nós, jogadores, somos bonecos. Arrumam as malas, levam, colocam no avião, sentam e dormem. Não é assim!

FP – O atacante Kuki, do Náutico, contou que quase comeu carne de cachorro na Coréia quando jogou naquele país. Você experimentou esse prato asiático?
MA – Existe mesmo lá. Há em poucos lugares, mas existe. Eu iria experimentar a carne de cachorro. Já estava combinando com Botti. Sei que há carne ensopada e assada. Dizem que a assada é muito boa. Porém, a ensopada tem um gosto muito forte. Falaram que, mesmo assim, é gostoso. Quem sabe eu não como por aqui? (Risos).

FP – Algum arrependimento?
MA – Se soubesse que era do jeito que é, só iria por muito dinheiro. Se fosse pela mesma quantia, não iria novamente. Como era a minha primeira vez e eu não conhecia, tenho que ficar em cima do muro. Me arrependo, mas não me arrependo. Financeiramente foi bom, mas não joguei.

FP – Quando você deixou o Santa Cruz, alguns tricolores, como o presidente do Conselho Deliberativo, Zé Neves, ficaram chateados porque faltavam apenas três jogos para acabar o Segundo Turno do Estadual. Você ouviu muitas críticas?
MA – Eles ficaram chateados de uma forma erronia porque tudo estava dentro do contrato que eles mesmo assinaram. Até fiquei sabendo que pessoas da diretoria – isso me deixou muito entristecido – disseram que eu precisava agradecer muito ao Santa Cruz porque o clube tinha me ressuscitado. Isso não é justo! Não é verdade! Eu tive um acesso recente com o Fortaleza, sendo vice-artilheiro da equipe. Foram declarações equivocadas de dois dirigentes. Estava tudo no contrato. Se houvesse interesse de um time do exterior ou do Brasil, teria que ressarcir o clube com o que me foi pago (o salário adiantado de um mês). É lógico que o pessoal estava entristecido porque o Santa estava há dez anos sem vencer e existia a rivalidade de tirar o centenário do Sport.

FP – Você também se considera um campeão pernambucano?
MA – Sim. Eu também me considero campeão. Recebi um troféu por ser um dos melhores atacantes do campeonato e a faixa de campeão. Joguei 80% das partidas e fiquei apenas fora das últimas. Eu sempre mantinha contato com os jogadores. Eles me ligaram e me deram os parabéns. Nada mais justo. Mas vamos apagar essa parte. O título e os gols já estão no currículo e estou num novo caminho, com novos amigos.

FP -Quando você voltou, disse que tinha uma dívida de gratidão com o Santa Cruz. Essa dívida permanece?
MA – Agora que estou aqui (na Ilha do Retiro) não posso mais mencionar isso. Conheço a rivalidade entre as equipes e as pessoas podem fazer uma interpretação errada, gerando tumulto. Mas, eu quando estava voltando, cheguei a comentar isso mesmo porque Givanildo me ajudou muito na minha saída. Evidente que haveria uma dívida de gratidão. Porém, isso passou e não fui para o Santa Cruz. Estou muito feliz no Sport e tenho que dar continuidade ao meu trabalho.

FP – O que pesou para você se decidir pelo Sport?
MA – Não acho que se trate de peso. Se você tem qualquer coisa, é mais lucrativo vender do que emprestar. Nós, jogadores, quando pertencemos a um clube, somos “mercadorias”. Somos jogadores, mas existe a moeda de troca. Vamos para lá e para cá na intenção de haver lucro. Só que as pessoas entendem isso de maneira errada. Chamam os atletas de mercenários, corruptos e traíras. Mas não é bem assim.  O João Feijó (presidente do Corinthians/AL, que detinha os direitos federativos de Marco Antônio) achou que era melhor me vender do que me emprestar.

FP – O João Feijó teve essa vontade. E você?
MA – Estou feliz com essa decisão. São três anos e meio de contrato. O pessoal só vai entender que sou muito feliz aqui com o tempo. Quando entro em campo, procuro mostrar o meu futebol. Suo mesmo e, se tiver que dividir de cabeça, divido. Essa é a minha característica. Não tenho como fugir.

FP – Como você foi recebido na Ilha do Retiro?
MA – Fui recebido com um calor muito grande pelos companheiros e pela comissão (técnica). Agora é colocar uma nova camisa e me entrosar com a torcida e com os jogadores para dar um retorno.