Bosco: Meu ciclo no Sport se encerrou

O goleiro Bosco foi uma das grandes revelações do Sport nos últimos anos. Defendendo as cores rubro-negras, o jogador conseguiu chegar a Seleção Brasileira. Neste ano, o jogador voltou à Ilha do Retiro, mas um imbróglio na Justiça envolvendo o seu ex-clube, a Portuguesa, acabou atrapalhando seu rendimento e um namoro com a torcida rubro-negra. Ele deixou o Leão e foi para o Fortaleza, conseguindo levar a equipe de volta à Série A. Nesta entrevista, Bosco fala da campanha do Fortaleza e garante que seu ciclo no Sport se acabou.

JC OnLine – Como foi para você, no seu primeiro ano no Fortaleza, conseguir levar o clube de volta à Primeira Divisão?

Bosco – Foi um fato muito especial na minha carreira, principalmente porque passamos por muitas dificuldades para conseguirmos esse objetivo. Fui para o Fortaleza sabendo que seria um recomeço. Diante dessa campanha, pude comprovar que a Segunda Divisão é uma competição muito mais difícil do que a Primeira; afinal, além de enfrentarmos fortes adversários, estamos jogando em estádios que não têm boa estrutura e, muito menos, bons gramados.

JC OnLine – Qual era o ponto mais forte da equipe?

Bosco – Durante a competição, eu sempre falava que o ponto forte do Fortaleza era o espírito de grupo. Não existiam vaidades. Fora de campo, sempre estávamos conversando e brincando. Veja bem, em todo time sempre há um jogador que a gente não se dá bem. No Fortaleza, não existiu isso. Portanto, quando soubemos explorar essa união e qualidade técnica dos jogadores, nós conseguimos reverter as situações adversas.

JC OnLine – Fala-se muito que Zetti tem um poder enorme de recuperar psicologicamente uma equipe. Até que ponto ele tem influência nessa conquista?

Bosco – Antes de mais nada, é bom dizer que o técnico Hélio dos Anjos tem uma parcela muito grande nessa conquista. Foi ele quem praticamente montou esse grupo. Zetti pegou esse time e manteve a mesma filosofia de trabalho. Tanto Hélio quanto Zetti sabem trabalhar com a parte psicológica do grupo e isso foi fundamental. Para se ter uma idéia, momentos antes da partida contra o Ituano, nós assistimos a um vídeo com os nossos familiares dando palavras de incentivo. Naquele momento, jogávamos fora de casa e só a vitória interessava. Resultado: vencemos por 2×0 e garantimos a nossa classificação para a final.

JC OnLine – Você se considera um jogador de sorte?

Bosco – Graças a Deus, minha carreira é iluminada e eu sempre pude mostrar o meu trabalho. Até mesmo na Portuguesa, quando fomos rebaixados, consegui ter bom desempenho no Campeonato Paulista e no Brasileiro. Sou abençoado por Deus e vivo cercado por boas companhias. A minha família sempre esteve ao me lado e me deu a estrutura necessária para sempre mostrar meu valor.

JC OnLine – Algumas pessoas comentam que o fato do seu retorno ao futebol nordestino mostra que o mercado no Brasil fechou as portas para você. Qual a sua opinião?

Bosco – Eu vim por Sport, em 2003, por opção. Mas eu reconheço hoje que foi um erro. Eu estava recebendo um bom salário, numa vitrine muito maior, recebendo propostas do Santos e do Corinthians. No Sport, passei por situações chatas e, por isso, optei por jogar no Fortaleza. Às vezes, a gente tem que dar um passo atrás para dar 10 mais na frente. Jogar no Fortaleza foi bom, pois conheci uma nova cidade e outro mercado.

JC OnLine – Você deve continuar no Fortaleza?

Bosco – Já conversei com a diretoria e deixei tudo encaminhado. Está faltando apenas pequenos detalhes para a renovação de contrato.

JC OnLine – Se o Sport fizesse uma boa proposta, você voltaria para o clube?

Bosco – O meu ciclo no Sport acabou. Sei que foi no clube que comecei minha carreira de profissional, que tenho uma ótima relação com a torcida, mas eu não voltarei para o Sport.

JC OnLine – Você acha que o mal-estar com a torcida por conta da sua titularidade na equipe no lugar de Maizena tenha sido o motivo da sua saída?

Bosco – Esse foi, sim, o principal motivo. Mas sei que era uma minoria da torcida que tomava essa postura. Até agradeço a eles porque foi graças a essa atitude que fui parar no Fortaleza e acabei conquistando o título. Mas tenho um carinho especial pelo Sport. Foi na Ilha que consegui chegar à Seleção Brasileira.

JC OnLine – Mas você reconhece que estava atravessando uma má fase no Sport?

Bosco – Veja bem, cheguei no Sport e estava muito bem quando a Portuguesa entrou na Justiça me impedindo de jogar. Passei 70 dias sem atuar e isso é muito ruim para um jogador de linha e pior ainda para um goleiro. Quando as coisas foram resolvidas, Hélio dos Anjos preferiu a minha escalação a de Maizena. Era uma opção dele. Não tivemos um bom resultado contra o Paulista e o Londrina, e, com isso, a torcida caiu em cima. Veio o jogo contra o Náutico e eu me machuquei. Passei o resto de 2003 na reserva sem reclamar. Em 2004, Hélio dos Anjos optou por minha escalação. Isso é uma coisa pessoal do Hélio. Quando estive no Cruzeiro, fiz grandes partidas, mas o Felipão optou pela escalação de André, que tinha voltado de uma contusão. É questão de confiança e eu sempre respeitei isso. Infelizmente, a torcida vive o momento e, como os resultados não estavam vindo, sobrou para mim.

JC OnLine – É verdade que seu relacionamento com Maizena era ruim?

Bosco – De forma alguma. Meu relacionamento com ele sempre foi muito bom e não tinha jeito de ser diferente. Nós trabalhamos, goleiros, trabalhamos separados e com um técnico específico. Portanto, seria infantil da nossa parte não termos um bom relacionamento. As pessoas que têm uma mente imunda que ficam inventando essas histórias maldosas. Disseram até que eu fazia parte do grupo liderado por Sílvio Criciúma. Mentira. Sílvio sempre se deu bem com todo mundo.