Apenas o futebol profissional fica com a S.A.

Como a criação da Sport S.A é restrita para gerir o futebol profissional, as divisões de base e o departamento de esportes amadores seguem sob administração da instituição. A separação tem um importante objetivo: deixar a modalidade principal apta para receber investimentos privados, já que, atualmente, segue impossibilitada, pois se trata de uma sociedade sem fins lucrativos. “Precisamos de dinheiro. O futebol é um negócio e precisa de investimentos para sobreviver”, comentou o advogado da Veirano, Fernando Cavalcanti, que faz um alerta: “É bom deixar claro que transformar o clube em empresa não garante o sucesso em campo”.

Como empresa, o futebol rubro-negro será dividido em ações ordinárias, que representam o poder de voto em reuniões do Conselho Administrativo da respectiva S.A, e as preferenciais, que garantem prioridade na repartição dos lucros. O Sport Club, como fundador da Sport S.A a partir de um valor simbólico de R$ 10 mil, terá 51% das ordinárias. “A última palavra ficará com o Sport, não renunciaremos ao nosso futebol”, garante o advogado Antônio Mário. Os outros 49% ficarão sob comando do investidor – o interesse dos idealizadores da minuta é de que o clube conte, apenas, com um parceiro.

A dúvida permanece quanto às divisões das ações preferenciais, que nortearão o lucro obtido pela S.A. Assim, o Sport (instituição) terá poder de decisão, porém pode ter menor barganha na hora de repartir os lucros, deixando a maior parte do dinheiro para o investidor. “Isto ainda não está definido. Vamos discutir com o nosso Conselho e com o próprio Bivar”, disse Harlan.

Como os rubro-negros pretendem seguir o modelo adotado pelo Vitória/BA, que em 1998 entregou seu futebol profissional para o comando da Vitória S.A, é bem provável que haja uma ‘união dos papéis’, ou seja, ações ordinárias e preferenciais serão repartidas igualmente. “Assim, o Sport continuará com a maior parcela dos lucros”, disse o advogado Antônio Mário, da Veirano Advogados, escritório responsável também pela minuta de criação da Vitória S.A.

Os recursos da Sport S.A não vão se restringir aos investimentos do parceiro, a ser aprovado pelo Conselho Deliberativo. Vendas de jogadores, licenciamento de produtos com a marca do Leão, patrocinadores, bilheteria dos jogos e cotas de televisionamento continuam sendo as principais fontes de renda do futebol profissional. Mas é bom lembrar que tudo que entrar nos cofres da S.A deverá ser repartido, de acordo com as ações preferenciais, com o parceiro. Ou seja, de todo o montante os leoninos podem ficar com menos da metade. Então, você pode perguntar: quais as vantagens de se transformar em clube-empresa? Pois bem, os defensores do empreendimento acreditam que com um parceiro o valor arrecadado cresça tanto que, mesmo repartindo o lucro, o Sport ainda assim saia com mais grana.

A reportagem do JC procurou Luciano Bivar, que acumulará a presidência do clube e a do Conselho Administrativo da S.A, para falar sobre a transformação. Mas até a sexta-feira passada, ele ainda não havia lido a minuta. Fato estranho para quem atrelou a sua volta ao comando rubro-negro à criação do clube-empresa.