Paixão declarada pelo futebol

Um apaixonado por futebol. É assim que se define o meio-campo Juninho, 29 anos, que leva para o mundo o nome do Estado agregado ao seu apelido. Titular na Seleção Brasileira, ele finalmente conseguiu conquistar a confiança do técnico Carlos Alberto Parreira e espera, em breve, realizar um grande sonho: disputar uma Copa do Mundo. Atualmente, ele joga no Olympique Lyonnais da França, ou apenas Lyon, de onde não pretende sair, pelo menos nos dois próximos anos. E não poderia ser diferente, pois Juninho está fazendo história na França. Antes da sua chegada, o time francês nunca tinha sido campeão nacional. Entretanto, bastaram três anos para o Lyon dominar a França e tornar-se tricampeão. Como sempre faz nas férias, Juninho vem ao Recife para descansar junto à família. Sem fugir às raízes, ele não perdeu nem o sotaque pernambucano e continua simples e simpático, como quando saiu do Sport, em 1995. Desse modo, Juninho recebeu a reportagem da Folha de Pernambuco, na casa da sua mãe, reduto de descanso após mais uma vitoriosa temporada.

Você acaba de ser tricampeão francês e está conquistando a confiança do Parreira para atuar como titular da Seleção Brasileira. Seria esta a melhor fase da sua carreira?

Prefiro pensar que o melhor momento está sempre por vir, claro que é um momento especial, mas prefiro pensar assim. Quero ter condição de manter esse momento com boas atuações. Acho que por eu ter jogado os últimos cinco jogos como titular na Seleção, todo mundo tenha a impressão de que seja o meu melhor momento.

Os zagueiros brasileiros são bastante criticados, mas no Lyon a zaga tem dois deles: Caçapa e Edmílson. Você não acha que a imprensa pega um pouco “pesado” com os defensores?

Acho que o futebol brasileiro é ofensivo por natureza. Nós sempre tivemos os melhores atacantes do mundo, e também grandes meiocampistas e zagueiros. Mas acho que, em alguns casos, a cobrança é um pouco excessiva exagerada. Pelo Brasil jogar tão ofensivamente, os zagueiros ficam mais expostos, isso é natural. Só que hoje, defesa no futebol não são só os dois zagueiros, é toda a equipe. Existe uma crítica um pouco exagerada, mas confio muito nos zagueiros brasileiros, ainda mais nos do meu time, que são dois excelentes zagueiros.

Ainda sobre os seus colegas brasileiros do Lyon, como é a convivência com eles?

Convivo com o Edmilson há quatro anos, com o Caçapa há três e meio e com o Élber há um. O Lyon acabou se tornando a segunda casa dos brasileiros. Quando chegamos lá, o Lyon nunca tinha sido campeão francês, e nós fomos tricampeões. O ambiente do time é muito bom, temos o reconhecimento do torcedor. Só lamento que Lyon não seja uma cidade muito apaixonada pelo futebol, apesar do nosso estádio estar sempre cheio. A torcida não é tão apaixonada quanto a do Marseille e Paris Saint German.

Tem vontade de atuar em alguma outra liga Européia?

Por estar lá há três anos conheço muito bem todas as Ligas. Tenho admiração pelo futebol inglês, por causa do respeito do torcedor com o jogador que me impressiona muito. Tecnicamente gosto do futebol espanhol. Acho que a diferença do futebol espanhol para os outros é que os times pequenos tentam fazer gols e não ficam apenas na defesa. Bem diferente das equipes pequenas da França, onde esses times ficam se defendendo o tempo todo. Tenho mais dois anos de contrato para cumprir, estou muito feliz, apareceram algumas coisas agora, mas o presidente do Lion colocou o meu preço um pouco alto, então vou ficar lá por mais dois anos.

Na Copa de 2002 você acabou preterido pelo técnico Felipão. Naquele momento você chegou a afirmar que iria esquecer a Seleção. O que mudou de lá para cá?

Fui convocado pelo Felipão mas joguei pouco, sempre entrava nos segundos tempos. O que mudou foi que tive mais tempo de jogo, o Parreira me convocou e passou a me usar mais. Falei que ia esquecer um pouco a Seleção, mas tive paciência e fui convocado. Tudo foi conseqüência do bom trabalho que fiz no Lyon.

Como você vê, atualmente, o grupo da Seleção Brasileira?

O grupo é excelente, assim como o ambiente entre nós. Mesmo os jogadores que foram pentacampeões são de convivência muito fácil. Estou me sentindo muito bem por causa disso e espero poder continuar nesse grupo até a Copa do Mundo.

Que achou da sua não convocação para a Copa América?

Joguei 32 jogos no Campeonato Francês, dez na Liga dos Campeões da Europa, mais a Copa da França e a Copa da Liga, um torneio amistoso preparatório na Coréia, os jogos das Eliminatórias e amistosos. Como todos que jogam na Europa estou no limite físico, cansado. Me surpreendi com a minha condição física nesses últimos jogos, terminei muito bem, mas é arriscado. Se jogo a Copa América agora, posso não sentir nada, mas correria o risco de chegar em dezembro e estar esgotado no meio da temporada. Vou ter o que é certo, o período de recuperação, a pré-temporada e o reinicio dos jogos até chegar às eliminatórias. É sempre um prazer vestir a camisa da Seleção, porém esse lado do descanso vai me ajudar na recuperação para continuar jogando bem.

Seria mais um voto de confiança do Parreira?

Talvez sim, não gosto de pensar assim, mas espero que ele (Parreira) tenha pensado. Prefiro manter os pés no chão e sempre melhorar, pois a concorrência na posição é grande. O Kléberson que é pentacampeão do mundo e o Renato que voltou a ser convocado, são grandes jogadores. Hoje sinto que a comissão técnica tem uma confiança muito grande em mim, isso é importante, por isso meu futebol cresceu também, afinal todo jogador precisa de confiança para jogar. Farei de tudo para não decepcionar.

Você acompanha o futebol brasileiro, assim como o pernambucano?

Acompanho, mas não como quando eu jogava aqui. Pela TV por assinatura vejo o Campeonato Brasileiro. O Pernambucano é um pouco mais difícil. O nosso campeonato continua sendo o melhor do mundo tecnicamente e vai sempre revelar grandes jogadores. É difícil comentar sobre o futebol pernambucano já que acompanho muito pouco, mas sei que os três estão na luta para voltar à Primeira Divisão. Torço para que Pernambuco tenha dois ou três representantes na Série A, porque é um estado apaixonado por futebol.

Você guarda alguma mágoa do Vasco, clube pelo qual você saiu por estar com os salários atrasados?

De jeito nenhum, fui bicampeão brasileiro, campeão Carioca, da Mercosul, do Rio São Paulo e por duas vezes vice-campeão mundial (Interclubes). O que guardo são boas recordações e títulos. Meu problema não foi com o clube em si, foi com quem o dirigia, e ainda dirige.

Embora ainda falte muito tempo para encerrar a carreira de jogador, o que pretende fazer depois?

Nem tanto tempo assim (risos). A cada hora que passa vou pensando mais sobre isso. É um assunto complicado porque a carreira de jogador é curta. Quando se acaba de jogar existe toda uma vida pela frente, então é uma coisa difícil. Sempre fui apaixonado por futebol, está no meu sangue. A tendência é que eu faça alguma coisa ligada ao futebol. Vou morar no Brasil, Recife é a cidade que eu gosto, onde eu nasci e tenho meus amigos e familiares.

Há quanto tempo você está fora do País? Sente muito a falta da sua família que mora aqui no Recife?

Saí do Recife em 1995 e estou fora do Brasil há três anos. Sinto bastante falta, mesmo acostumado com as viagens. Sempre fui muito caseiro. Mas gosto demais do que faço e todas as férias venho para cá.

Para você e sua família, como foi a adaptação à França?

Não tivemos dificuldade nenhuma, me preparei muito antes, pois já queria sair do Brasil. Eu já vinha me preparando e à minha família também. Fiz toda uma preparação psicológica, conversamos bastante em casa. Existe o impacto da mudança, mas quando cheguei já tinham três brasileiros no Lion e isso facilitou bastante na adaptação.

Os clubes que foram campeões dos principais campeonatos europeus tinham brasileiros em seu elenco. O que você acha disso?

Isso confirma a qualidade do jogador brasileiro. O que eu comemoro mais não é nem a conquista dos títulos, mas que esses jogadores estão abrindo as portas para outros, diferentemente daquele jogador que chega e logo quer voltar. Se não houver nenhum problema de saúde, acho que os jogadores deveriam ficar pelo menos dois anos para decidir se querem continuar ou não. Dois anos é um período muito curto para se adaptar, mas às vezes acontece, como no meu caso, que foi rápido.

O futebol europeu completa o jogador brasileiro e o faz evoluir?

Se ele quiser e colocar na cabeça que está preparado para isso, ele aprende. Depende também da característica do jogador, se ele tem qualidade técnica, e geralmente os brasileiros têm, vai evoluir nesse lado. A diferença básica é que o brasileiro tem muita qualidade técnica e o europeu é muito determinado, mais do que nós, por isso eles chegam a se superar.

No começo da carreira você chegou a jogar futsal e futebol de campo ao mesmo tempo, conta um pouco mais da sua trajetória até despontar no profissional do Sport.

Em 1992 fiz um teste no júnior do Sport, quando passei e disputei logo o campeonato pernambucano sendo campeão. Então deixei o salão definitivamente. Em 1993 cheguei no profissional e estreei graças a Nereu que é o treinador a quem eu tenho de ser mais grato, sem dúvida. Ele me lançou em 94 e disse que eu ia ser titular do Sport. No início, mesmo com altos e baixos ele me segurou, por isso sou agradecido.

Como você avalia a temporada 2003-04 e o que espera da próxima?

Desde de 1997, a cada temporada eu venho conquistando algo. O que me dá mais prazer é ganhar, é muito bom. Meu maior defeito é que não aprendi a perder, mas tem hora que o adversário é superior. A temporada foi excelente, fui tricampeão, fiz cinco gols na Liga dos Campeões, dez no campeonato Francês e dois na Copa da França. Bati meu recorde esse ano, acabei a temporada com 17 gols. Espero continuar conquistando títulos pelo Lyon, fazer uma boa Liga dos Campeões e jogar pela Seleção até a Copa do Mundo. Sempre com saúde, que é o importante.